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domingo, 27 de janeiro de 2019

APOCALIPSE DE ABRAÃO

Apocalipse de Abraão


Parte I
A Narrativa
Capítulo 1

Dúvida de Abraão sobre os ídolos

LIVRO DAS revelações de Abraão, filho de Therach e neto de Nachor,
filho de Serug e neto de Reus, filho de Arphaxad e neto de Sem, filho de
Noé e neto de Lamech, filho de Mathusalém e neto de Enoch, filho de
Jared.
2 Nos dias em que eu burilava os deuses do meu pai Therach, bem
como os deuses de Nachor, seu irmão, eu me perguntava quem seria o
Deus forte, em verdade; eu, Abraão, naquele tempo indagava sobre a
minha sorte, pois que eu estava a modelar os objetos de culto do meu pai
Therach, com os seus deuses de madeira e pedra, de ouro e prata, de
bronze e ferro.
3 Assim, um dia dirigi-me aos ofícios do templo; lá verifiquei que o
deus de pedra Merumat estava caído e jazia aos pés do deus de ferro
Nachom.
4 Diante desse espetáculo, perturbou-se o meu coração, pois eu
considerava o meu pensamento que eu sozinho não tinha condições de
recolocá-lo no seu lugar, pois que ele era feito de um grande e pesado
bloco de pedra.
5 Assim, procurei o meu pai para dar-lhe notícia do ocorrido. Ele então
foi contigo até lá.
7 Enquanto juntos o removíamos, para recolocá-lo no seu lugar, eis que
se lhe despencou a cabeça, no momento em que eu a segurava.
9 Quando meu pai viu assim derrocada a cabeça de Merumat, disse-me:
"Abraão!"
10 Eu respondi: "Aqui estou."
11 Ele então falou-me: "Vai até em casa e traze-me um cinzel". E eu

2

lho trouxe.
12 Então ele esculpiu um outro Merumat, de outra pedra, mas sem
cabeça; sobre ele então assentou a cabeça que se havia desprendido, e fez
em pedaços o corpo do primitivo Merumat.
Capítulo 2
O destino dos deuses:
1 Ele fez mais cinco outros deuses, e entregou-nos, incumbindo-me de
ir vendê-los nas ruas.
2 Arreei o jumento de meu pai, e sobre ele os carreguei.
3 Assim, dirigi-me à estalagem para vendê-los. Comerciantes de
Fandana, Síria, estavam de passagem por lá, dirigindo-se ao Egito, a fim
de comprar papiro do Nilo.
4 Entrei em conversação com eles. Nesse momento, um dos camelos
blaterou.
5 O asno levou um tremendo susto e saiu em disparada, jogando longe
os deuses, e três deles quebraram-se, restando apenas dois inteiros.
6 Quando os sírios viram que eu trazia ídolos, falaram-me assim: "Por
que não nos disseste que trazias ídolos? Pois nós os teríamos negociado,
antes que o asno se espantasse com o grito do camelo. Assim, eles não se
teriam danificado.
7 "Entrega-nos, pois, ao menos, os deuses restantes. Nós te
ressarciremos pelo preço justo os que se quebraram, e preço igualmente
justo pagaremos pelos que permaneceram intactos."
8 Eu, porém, sentia-me profundamente perturbado em meu coração, por
ter que levar ao meu pai o preço dessa venda.
9 Lancei os três que se quebraram no rio Gur, e eles mergulharam ao
fundo. E já não mais existiam.
Capítulo 3

3

Reflexões de Abraão:
1 Estando eu ainda a caminho, perturbava-se-me o coração e a minha
mente ficou intranqüila.
2 No meu íntimo eu dizia assim: mas que má ação está o meu pai a
cometer!
3 Não é ele muito mais o deus dos seus deuses? Pois eles são formados
pelos seus cinzéis e tornos, produtos da sua arte. Pois, não deveriam eles
adorar o meu pai, por serem nada mais do que obra grosseira das suas
mãos?
4 Que espécie de engano existe, portanto, nas obras de meu pai?
5 Merumat caiu ao chão, e, no seu próprio templo, nunca mais pôde
levantar-se; eu mesmo não consegui movê-lo, até que veio meu pai,
quando então juntos o levantamos.
6 E sendo ainda fracas as nossas forças, despencou-se-lhe a cabeça.
Meu pai então adaptou-a sobre outro ídolo de pedra, por ele
confeccionado, sem cabeça.
7 Os outros cinco deuses foram maltratados pelo burro; eles não
puderam nem por-se a salvo, nem fazer mal ao asno, embora este os
tivesse arruinado; e nem emergiram do rio os seus cacos.
8 Eu disse no deu coração: sendo assim, como pode o ídolo Merumat
do meu pai salvar a um homem, ou escutar a súplica de um vivente, ou
valer-lhe de alguma forma, pois que inclusive possui a cabeça de uma
pedra estranha sobre um corpo feito de outra?
Capítulo 4
Conversação de Abraão com o seu pai:
1 Enquanto eu assim meditava, cheguei à casa de meu pai; dei água e
feno ao jumento, tomei o dinheiro e entreguei-o a meu pai Therach.
2 Ao vê-lo, ele ficou satisfeito e disse: "Abençoado sejas, Abraão, pelos
meus deuses, pois que trouxeste o preço da venda dos ídolos, não ficando
em vão o meu trabalho."
3 Eu falei a ele: "Meu pai Therach, escuta! os deuses são em verdade

4
abençoados por ti, porque tu és deus para eles, pois tu os criaste. A bênção
deles é muito mais maldição, e vã é a sua ajuda. Se eles mesmos não
puderam ajudar-se, como poderiam auxiliar a ti, ou abençoar a mim?
4 "Eu fui de bom proveito para ti neste momento, pois por minha
diligência trouxe-te o dinheiro dos ídolos despedaçados."
5 Ao ouvir essas minhas palavras, ele encheu-se de profunda ira contra
mim, pois eu pronunciara palavras graves contra os seus deuses.
Capítulo 5
Abraão zomba dos ídolos:
1 Eu me afastei, refletindo sobre a ira de meu pai. Pouco tempo depois,
ele me chamou: "Abraão!"
2 E eu disse: "Aqui estou."
3 Ele falou: "Recolhe agora os cavacos da madeira da qual talhei deuses
de pinho, enquanto estavas fora. Prepara-me com eles um almoço!"
4 Enquanto eu ajuntava os cavacos da lenha, encontrei no meio deles
um pequeno ídolo, que jazia no cisco à minha esquerda, e trazia a seguinte
inscrição na testa: "deus Barisat".
5 Mas não falei a meu pai que encontrara entre o gravetos o deus de pau
Barisat.
6 Quando coloquei os gravetos ao fogo para o preparo da comida de
meu pai, e desejando afastar-me em procura do alimento, coloquei Barisat
junto do fogo recém aceso, e disse-lhe:
7 "Fica atento, Barisat, para que o logo não se apague até a rainha volta!
Se ele se extinguir, sopra-o, para que de novo arda!"
8 E assim, eu me afastei para realizar o que tencionava.
9 Na minha volta, encontrei Barisat caído de costas, com os seus pés
mergulhados no fogo, e tremendamente queimado.
10 Vendo isso, desatei a rir, e disse de mim para mim: sim, Barisat,
podes tranqüilamente alimentar o fogo e cozer o alimento.
11 Enquanto eu assim pensava e ria, ele se consumiu devagar na brasa e
virou cinza.
12 Então levei o almoço para meu pai, e ele comeu.

5
13 Dei-lhe também vinho e leite; ele bebeu e ficou satisfeito e louvou o
seu deus Merumat.
14 Eu falei a ele: "O pai Therach, não exaltes o teu deus
Merumat! Não o glorifiques de modo algum! Louva muito mais o teu
deus Barisat! Ele atirou-se a si mesmo ao fogo para cozinhar o teu
almoço; assim, pois, ele te ama muito mais."
15 Perguntou-me meu pai: "Onde está ele agora?"
16 Eu respondi: "Ele ardeu em cinzas na labareda e converteu-se em
pó."
17 Ele falou: "Grande é poder de Barisat. Irei hoje confeccionar um
outro, e amanhã ele preparará o meu almoço."
Capítulo 6
A nulidade dos ídolos:
1 Ao ouvir eu, Abraão, tais palavras de meu pai, não contive o riso no
meu íntimo; e no fundo da alma suspirei com grande ira e indignação.
2 E falei: "Como pode enfim um artefato de meu pai, uma imagem feita
por sua mão, prestar-lhe ajuda?
3 "Como pode ser assim? Deverá o nosso espírito submeter-se à
irracionalidade e à tolice? Na realidade, o nosso corpo subordina-se à
alma, e a alma subordina-se ao espírito!
4 Eu refletia: convém ter paciência com o mal. Mas eu desejo oriental o
meu pensamento para o que é puro, e assim exporei claramente a meu pai
o que eu penso.
5 Falei: "O pai Therach! Seja a quem for que possas demonstrar esse
louvor divino, em qualquer caso, não és razoável na tua mente.
6 "Vê, os deuses do teu irmão Haran, que se encontram-no templo
sagrado, são muito mais dignos de veneração do que os teus.
7"Considera bem, Zucheus, deus de teu irmão Haran, merece muito
mais reverência do que o teu deus Merumat; àquele é feito de ouro, e por
isso é tido em alto apreço pelo povo.
8 "Se ele envelhecer pelos anos, poderá ser refundido. Porém, se o teu
deus Merumat se deteriorar, ou se quebrar, não poderá ser renovado; ele é

6

feito de pedra.
9 "O mesmo acontece com o deus Joavan.
10 "O Barisat, por sua vez, ardeu no fogo, virou cinza, e já não existe
mais.
11 E tu dizes: Vou hoje fazer um outro, que preparará amanhã o meu
almoço'."
12 Ele ficou completamente aniquilado.
Capítulo 7
O Deus incomparável:
1 "Em verdade, mais digno de veneração que todas as imagens é o fogo,
pois muitas coisas que de resto a nada se submetem, a ele se entregam. Os
objetos facilmente perecíveis servem à derrisão de suas chamas.
2 "Todavia, ainda mais digna de veneração é a água, porque ela vence o
fogo e também aplaca a sede da terra.
3 "Mas a esse ainda não chamo Deus; ela submete-se à terra, para a qual
se inclina.
4 "Digo que mais digna de veneração é a terra, que sobrepuja; a
natureza da água.
5 "Mas a ela também não chamo Deus, porque ela é ressecada pelo sol e
serve às edificações do homem.
6 "Mais digno de veneração ainda que a terra digo que é o sol, pois com
os seus raios ilumina o mundo universo.
7 "Mas nem a este eu chamo Deus, pois o seu curso é obscurecido pela
noite e pelas nuvens.
8 "Nem a lua e as estrelas eu chamo Deus, porque, a seu tempo, no
decurso da noite, perdem a sua claridade.
9 "Ouve isto, meu pai Therach, pois vou anunciar-te o Deus que tudo
tem criado, não àqueles que consideramos corvo deuses!
10 "Onde está ele então? O que é ele? Quem deu o vermelho ao céu,
ouro ao sol e claridade à lua e ás estrelas?
11 "Quem secou as terras no meio das muitas águas? Quem colocou a ti
mesmo no mundo? Quem veio em meu socorro, na confusão do meu

7

pensamento?
12 "Que Deus por si mesmo possa se nos revelar!"
Capítulo 8
Revelação de Deus:
1 Enquanto eu falava essas coisas a meu pai, no pátio da minha casa,
ouviu-se a voz de alguém que era muito forte, vinda do céu, em meio a
um turbilhão de fogo, e chamou: "Abraão! Abraão!"
2 Eu respondi: "Aqui estou."
3 Ele disse: "Tu procuras o Deus dos deuses, o Criador, no intimo de
teu coração. Eu o sou.
4 "Afasta-te de teu pai Therach! Abandona a casa, para que também tu
não encontres a morte nos pecados da tua casa paterna."
5 Encaminhei-me para a saída. Não havia ainda chegado ao portão do
pátio, quando aconteceu um tremendo estalo de trovão, com fogo caindo
do céu, que queimou a meu pai, sua casa e tudo quanto nela se
encontrava, até o chão a quarenta côvados de profundidade.

Parte II

Capítulo 9
Abraão deve oferecer sacrifícios:
1 Veio então uma voz, dizendo-me por duas vezes: "Abraão! Abraão!"
2 Eu respondi: "Aqui estou."
3 Ela falou: "Eu o sou. Não tenhas medo! Pois anteriormente aos
mundos eu sou um Deus forte, que outrora criou a luz do mundo.
4 "Eu sou o teu escudo; eu sou o teu amparo.
5 "Vai, e separa para mim uma novilha de três anos, e uma cabra de três
anos, uma ovelha de três anos, uma rola e uma outra pomba! oferece-me
um sacrifício perfeito!
6 "Nessa oferenda, vou mostrar-te a idade do mundo e revelar-te-ei

8
inúmeros segredos. Tu verás grandes coisas, tais que até agora nunca
viste, porque suspiraste por mim, e eu te escolhi por meu bem-amado.
7 "Resguarda-te, porém, dos alimentos que procedem do fogo, da
bebida de vinho e da unção do óleo, por quarenta dias!
8 "Só depois disso oferecer-me-ás o sacrifício, conforme te ordenei, no
lugar que eu te indicar, no alto de uma montanha!
9 "Então eu te mostrarei a constituição dos tempos, criados por minha
Palavra; depois, dar-te-ei conhecimento daqueles que ainda virão, e que
hão de trazer o bem, ou o mal, às gerações dos homens."
Capítulo 10
A aparição do Anjo:
1 Enquanto eu ouvia a voz que me dizia tais palavras, eu olhava ora de
um lado, ora de outro.
2 Não se percebia sequer a respiração de um homem, de sorte que
muito me assustei no meu íntimo, e o meu espírito abandonou-me. Fiquei
como que petrificado e caí ao solo, não possuindo mais forças para ter-me
em pé.
3 E enquanto eu assim jazia com a face por terra, ouço falar a voz do
Santo:
4 "Vai, Javel, em nome da minha força indizível! Levanta-me esse
homem! Faze com que se recupere do seu pavor!"
5 Então veio a mim o Anjo, que Ele me mandava, com a semelhança de
um homem; tomou-me pela mão direita, recolocou-me sobre os meus pés
e disse:
6 "Abraão, ergue-te, ó amigo de Deus, que por ti mostrou predileção!
Não te deixes mais subjugar pela humana angústia!
7 "Fui enviado a ti para te fortalecer, para abençoar-te em nome de
Deus, criador do céu e da terra, Ele que tanto te amou.
8 "Tem coragem! Apressa-te para junto dele!
9 "Dele eu recebi o nome de Javel, e eu movimento tudo o que comigo
existe no sétimo plano abaixo do firmamento. O meu poder procede desse
nome indizível que está em mim.

9
10 "Cabe-me também impedir, segundo a Sua palavra, que os seres
vivos querubínicos se lancem ameaçadoramente uns contra os outros; e
aos portadores do Seu trono devo instruir no canto da sétima hora noturna
dos homens.
11 "Cabe também a mim colocar Leviatã sob freios. As ameaças e os
ataques daquele réptil estão sob a minha vigilância.
12 "Também a mim compete acabar com o Hades e exterminar aqueles
que se fixam nos mortos.
13 "Sou também àquele a quem foi ordenado incendiar a casa de teu
pai, junto com ele próprio, porque tributava adoração aos mortos.
14 "Fui agora enviado a ti para abençoar-te, e para abençoar a terra que
para ti reservou o Eterno, a quem invocas-te; por amor à ti dirijo agora os
meus passos sobre a terra.
15 "Abraão! Vamos! Anda sem temor! Alegra-te e exulta! Eu estou
contigo, porque o Eterno preparou para ti uma glória sem fim.
16"Pois vai, e cumpre o sacrifício que te foi ordenado!
17 "Eu fui designado para estar contigo e com a geração que de ti
procederá; e junto comigo abençoa-te também Miguel eternamente.
18 "Tem confiança! Vai!"
Capítulo 11
Companheiro de viagem de Abraão:
1 Então, recuperando-me, eu vi àquele que me segurava pela mão
direita, e que me havia posto sobre os pés.
2 Seu corpo assemelhava-se a uma safira, sua face a um crisólito, os
cabelos de sua cabeça eram como a neve, o diadema de sua cabeça era
como o arco-íris e sua vestimenta semelhante à púrpura; na sua mão
direita portava um cetro.
3 Ele dirigiu-me a palavra: "Abraão!" Eu respondi: "Aqui estou eu, teu
servo."
4 Ele falou: "Não te assustes nem com o meu olhar, nem com as minhas
palavras, para que não se perturbe o teu espírito.
5 "Agora vem comigo! Eu caminharei contigo, permanecendo visível

10
até a hora do sacrifício; mas terminado o sacrifício, ficarei invisível para
sempre.
6 "Anima-te, e vem!"
Capítulo 12
Viagem ao monte Horeb:
1 Assim nós partimos, e juntos permanecemos durante quarenta dias e
quarenta noites. Não comi pão, nem bebi água, porque o meu alimento era
contemplar o Anjo que estava comigo, e a minha bebida era a sua palavra.
2 Assim chegamos à montanha de Deus, o Horeb famosíssimo.
3 Eu falei ao Anjo: "Ó tu, cantor do Eterno! Nenhuma oferenda eu trago
comigo nem vejo sobre a montanha um altar. Como poderei eu aqui
realizar um sacrifício?"
4 Falou-me ele: "olha ao teu redor!"
5 Então, voltando-me, vejo que por trás seguiam-nos todos os animais
predeterminados para o sacrifício: a novilha, a cabra e a ovelha, a rola e a
outra pomba.
6 Disse-me o Anjo: "Abraão!" E eu respondi: "Aqui estou."
7 Falou-me: "Abate! Os animais do sacrifício parte-os em duas
metades! Coloca-as lado a lado! As aves, porém, essas não ferirás.
8 "Confia as vítimas aos homens que eu te indicarei, quando aqui
estiverem ao teu redor; eles constituem o próprio altar sobre a montanha,
para oferecerem aqui um sacrifício ao Eterno.
9 "Dá-me entretanto a rola e a outra pomba! Vamos subir nas asas dos
pássaros, para permitir que vejas o céu, a terra, o mar, os abismos, as
entranhas da terra, o jardim do Éden, seus rios, enfim, o mundo inteiro,
em sua órbita e sua plenitude; tudo haverás de ver."
Capítulo 13

11

O sacrifício de Abraão:
1 Eu tudo cumpri, de acordo com as palavras do Anjo, entregando aos
anjos, que compareceram junto de nós, os animais esquartejados; os
pássaros todavia foram tomados pelo Anjo Javel.
2 Entretanto, eu esperava pelo sacrifício vespertino.
3 Então pousou sobre os cadáveres um animal alado impuro, e eu o
afugentei.
4 Falou-me então o animal impuro: "O que fazes tu, Abraão, nestas
alturas sagradas, onde não se come nem se bebe, e onde não existe
alimento humano algum, onde porem àqueles [anjos] destroem cada coisa
pelo fogo e a ti mesmo hão de queimar?
5 "Abandona o homem que está contigo e foge! Porque, se ascenderes
às alturas, ali eles te aniquilarão."
6 Enquanto eu ouvia a voz daquela ave, falei ao Anjo: "O que significa
isso, meu Senhor?"
7 Ele disse: "isto é a impiedade; isto é Azazel."
8 Então ele disse ao pássaro: "Sobre ti caia o opróbrio, li Azazel!
9 "Pois a parte de Abraão está no céu, a tua porém está na terra.
10 "Se a está escolheste, e a ela preferiste para morada da impureza, o
eterno e forte Senhor fez de ti um habitante da terra; e por teu intermédio
acontece todo espírito mau da mentira, da ira e da discórdia, nas gerações
dos homens sem Deus.
11 "Pois Deus, o Eterno, o Poderoso, não permitiu que os corpos dos
justos fossem entregues às tuas mãos; somente através deles é que deveria
ser assegurada a vida dos justos e a perdição dos impuros.
12 "Escuta, amigo! Tem vergonha diante de mim!
13 "Pois não possuís o poder de tentar a todos os piedosos.
14 "Afasta-te deste homem! Não poderás pervertê-lo, porque ele é teu
inimigo, inimigo também de todos àqueles que te seguem e que amam
aquilo que é do teu agrado.
15 "Pois olha, as vestes que foram tuas no paraíso, a ele foram
reservadas, e a corrupção que era dele recaiu sobre ti."
Capítulo 14

12

A eleição de Abraão:
1 O Anjo falou-me: "Abraão!" Eu respondi: "Aqui estou, teu servo."
2 Ele disse: "Saibas desde este momento que o Eterno te escolheu, Ele,
a quem tu amas!
3 "Tem ânimo! Usa agora do poder, na forma como te ordeno, contra
àquele que injuria a verdade!
4 "Sim, como poderia eu deixar de insultar àquele que espalhou pela
terra os segredos do céu e que se rebela contra o Todo Poderoso?
5 "Dize-lhe: 'Sejas tu o carvão aceso do forno sobre a terra! Vai-te
agora, Azazel, para os campos desertos do mundo!
6 "A tua parte é o reinado sobre àqueles que contigo estão, àqueles que
outrora nasceram com as estrelas e as nuvens; também sobre os homens
que são a tua herança, que da tua existência procederam. Pois a prática da
justiça é tua inimiga.
7 'Desaparece da minha presença, em nome da tua da nação!'."
8 Eu então pronunciei as palavras do Anjo, conforme a sua instrução.
9 Depois ele falou: "Abraão!" eu disse: "Aqui estou, teu servo."
10 Disse o Anjo: "Ah, e não lhe respondas de forma alguma! Pois Deus
tem outorgado a ele o poder sobre àqueles que lhe respondem."
11 Então o Anjo pela segunda vez me disse: "Não lhe dês resposta
alguma, por mais que ele te dirija a palavra, para que não venha a sua
vontade a prevalecer sobre ti!
12 "Foi-lhe dada pelo Deus eterno uma vontade forte. Não discutas com
ele!"
13 Eu cumpri conforme o Anjo me ordenou, e, por mais que ele me
tenha interpelado, não lhe retruquei nada absolutamente.
Capítulo 15
Viagem aérea de Abraão
1 E aconteceu que, ao pôr do sol, viu-se uma fumaça, como a fumaça de
um forno.
2 Os anjos que se ocuparam com as partes do sacrifício subiram pela
coluna fumegante do forno.
3 A mim o Anjo tomou com a sua mão direita e colocou-me sobre a asa

13
direita da pomba; ele mesmo assentou-se sobre a asa esquerda da rola.
Essas pombas não tinham sido abatidas e retalhadas.
4 Assim, ele transportou-me até os limites das chamas do fogo.
5 Então subimos nas alturas, como em meio a muitos ventos, em
direção ao céu, que se fixava no alto do firmamento.
6 Nos espaços daquela altura, por onde subíamos, eu vejo uma luz
poderosa, indescritível, e no meio da luz um fogo imenso, e dentro dele
uma multidão, sim, uma grande multidão de figuras impressionantes,
todas elas mudando constantemente de aparência e forma, e que
caminham, se transformam, adoram, e pronunciam palavras que eu não
entendo.
Capítulo 16
A visão de Deus:
1 Eu falei ao Anjo: "Por que me trouxeste até aqui? Já nada mais posso
enxergar, pois sinto-me enfraquecido, e o meu espírito abandonou-me."
2 Disse ele: "Permanece junto de mim! Não tenhas medo! E aquele que
agora percebes estar se aproximando de nós, clamando em alta voz 'O
Senhor é santo, santo, santo', é o Eterno, que tanto amor revelou por ti.
3 "A ele próprio, contudo, tu não podes ver.
4 "Não deixes, todavia, que o teu espírito seja dominado pela fraqueza,
diante dessa voz poderosa! Eu estou contigo, para te fortalecer.
Capítulo 17
1 Enquanto ele ainda falava, apareceu um fogo que nos envolveu, e no
meio desse fogo uma voz, como a voz de muitas águas, semelhante ao
bramido do oceano no embate das ondas.
2 O Anjo, juntamente comigo, inclina a cabeça em adoração.
3 Eu, porém, desejava precipitar-me de volta para a terra; o lugar

elevado onde nos encontrávamos, ora permanecia a prumo, ora inclinava-
se para baixo.

4 Ele falou: "Abraão adora, e profere o canto que eu te ensinei!" Já não
havia mais terra à vista sobre a qual se pudesse cair.
5 Então, em adoração, pronunciei o canto que ele me ensinara.

14
6 Ele disse: "Fala sem interrupção!" E enquanto eu proferia o canto, ele
mesmo o recitava junto comigo:
7 "Eterno, Poderoso, Santo, Deus, único Senhor!
8 "Tu, que por ti mesmo subsistes, irrefragável, imaculado, Inchado,
Puro, imortal, Perfeito em ti mesmo, irradiante!
9 "Não gerado de Pai e Mãe, Sublime, Ardente, Único!
10 "Amante dos homens, Bondoso, Benigno, Zeloso comigo, em
verdade Paciente!
11 "Eli, que quer dizer Meu Deus', tu, o Eterno, Forte, Santo, Sabaot,
tu, o Excelentíssimo, EI, EI, EI, EI, Javel!
12 "Tu és Aquele por quem a minha alma suspirava, ó Eterno, Protetor,
Luminoso como o fogo! Tu, cuja voz é como o trovão e cujo olhar é igual
ao raio, Onividente, que escutas as orações daqueles que te louvam, e que
recusas os pedidos dos que criam obstáculos; obstáculos através de suas
provocações.
13 "Tu, que eliminas o caos no mundo, a desordem do mundo
corrompido, composto de bons e de maus! Pois tu renovas o mundo dos
justos.
14 "O Luz, que antes da aurora brilha sobre as tuas criaturas, para que
se faça dia sobre a terra!
15 "Na tua morada celeste outra luz não é necessária a não ser o brilho
indizível da tua Face.
16 "Acolhe pois a minha oração! Alegra-te com ela, bem como com o
sacrifício que tu mesmo preparaste através de mim, que a Ti procurava.
17 "Acolhe-me na tua Graça! orienta-me! Ensina-me! Revela ao teu
servo as coisas todas, conforme a tua promessa!"
Capítulo 18
O trono de Deus:
1 Enquanto eu ainda recitava o canto, levanta-se o logo que estava
sobre a fortaleza.
2 Escutei uma voz semelhante ao rugido do mar, e ela não cessava em
meio à abundância do fogo.

15
3 E quando o fogo, ascendendo ao alto, se afastava, vejo abaixo dele
um trono ígneo, e em derredor dele seres de muitos olhos, executando
àquele canto, e abaixo do trono quatro seres de fogo também cantavam.
4 A aparência deles era igual; cada um tinha quatro faces: uma era a de
um leão, outra a de um homem, outra a de um louro, e outra a de uma
águia.
5 Quatro cabeças assentavam-se sobre os corpos, de sorte que as quatro
criaturas possuíam juntas dezesseis cabeças. Cada uma tinha seis asas, nos
ombros, nos flancos, nas coxas.
6 As duas asas dos ombros cobriam as suas faces, as duas asas das
coxas cobriam os seus pés, as duas asas do meio abriam-se para voar para
a frente.
7 Quando terminaram o canto, olharam uns para os outros, e
começaram a ameaçar-se.
8 Ao perceber que se ameaçavam entre si, o Anjo que me acompanhava
deixou-me, e caminhou até eles, e desviou o Semblante de cada um
daqueles seres vivos da face que lhes ficava de frente, de sorte que não
pudessem mais ver mutuamente os seus rostos ameaça-dores.
9 Ele ensinou-lhes o Canto da Paz, que tem sua origem no Eterno.
10 Enquanto eu ali permanecia sozinho a observar, vejo atrás aqueles
seres vivos um carro que possuía rodas de fogo, e cada roda era cheia de
olhos no seu redor e sobre as rodas havia um trono, que eu olhava, e este
era coberto de fogo, e fogo jorrava ao seu redor; era um fogo indescritível,
um fogo multifário.
11 Ouço então a sua Voz santa, como sendo a voz de um homem.
Capítulo 19
A visão do céu de Abraão:
1 E uma voz chegou até mim, bem do meio do fogo. Ela disse:
"Abraão! Abraão!"
2 Eu respondi: "Aqui estou, Senhor!"
3 Ele falou: "Observa agora os planos abaixo do firma-mento em que te
encontras! Vê, como em nenhuma das camadas, nem em parte alguma

16
existe outro a não ser Ele, a quem procurava e que te distinguiu com o seu
amor!"
4 Enquanto ele ainda falava, vejo abaixo de mim abrirem-se os planos,
e contemplo o céu.
5 E no sétimo firmamento, em que eu me encontrava, vi um fogo vasto,
e luz e orvalho, e uma multidão de anjos, e uma glória de esplendor
invisível pairava sobre àqueles seres que eu via; e mais nenhum outro ser
eu via ali.
6 Da montanha sobre a qual eu estava, olhei para baixo, para o sexto
plano, e lá vi outra multidão de anjos, espíritos sem corpo, que cumpriam
as ordens dos anjos de fogo, do sétimo firmamento, no qual, pairando
sobre eles, eu me encontrava.
7 Neste firmamento não existiam outras Forças que tivessem outra
forma a não ser a dos anjos de puro espírito, e que pudessem comparar-se
à Força que eu vi no sétimo firmamento.
8 Então ele mandou que se removesse o sexto firmamento.
9 Nesse instante, eu vi, no quinto firmamento, como as potências
estelares obedeciam às ordens; a elas pertenciam igualmente os elementos
da terra.
Capítulo 20
Descendência de Abraão:
1 O Eterno, o Forte, falou pára ruim: "Abraão! Abraão!"
2 Eu respondi: "Aqui estou."
3 Disse Ele: "De cima, olha as estrelas que se encontram abaixo de ti!
Conta-as para mim e dize-me o seu número!"
4 Eu disse: "Como posso fazer isso? Eu sou um homem de pó e cinza."
5 Ele falou-me: "Semelhantemente ao número das estrelas, farei da tua
descendência uma nação e um povo para mim, separados da herança que
compartilho juntamente com Azazel."
6 Eu disse: "Eterno, Forte, Único! Possa o teu servo falar na tua
Presença! E não permitas que a tua ira se inflame contra o teu eleito!
7 Antes que me conduzisses para o alto, Azazel me injuriava.

17
8 Como então agora, não estando ele na tua Presença, entras em
entendimento com ele?"
Capítulo 21
A visão da terra:
1. Falou-me Ele: "Olha para o firmamento abaixo dos teus pés!
Reconhece agora nesse plano a obra da criação, as criaturas que nela se
encontram e o mundo que para elas foi preparado!"
2 Eu olho para baixo, e vejo seis céus e tudo o que neles se contêm, a
própria terra e os seus frutos, e tudo o que sobre ela se move, os seus
espíritos, e a força dos seus homens, e as ações ímpias das suas almas e
suas obras boas, bem como o principio das suas ações, as regiões
inferiores, e dentro delas a condenação, o abismo, suas penas.
3 Lá eu vi o mar e suas ilhas, os seus animais e seus peixes, o Leviatã,
seu domínio, seu lugar, suas cavernas, o mundo que sobre ele se estende,
sua agitação, e a ruína do mundo por causa dele.
4 Lá eu vi as correntes de água, suas fontes, suas curvas.
5 Lá eu vi o Jardim do Éden, suas frutas, a fonte do rio que dele brota,
as árvores, suas flores, e os homens que procedem com justiça.
6 Nele eu vi também os abundantes alimentos e o bem-estar.
7 Eu vi igualmente uma grande multidão de homens, mulheres e
crianças, estando a metade à direita e metade à esquerda da visão.
Capítulo 22
O povo escolhido:
1 Eu falei: "ó Eterno, Forte, Único! O que significa esse quadro das
criaturas?"
2 Disse-me Ele: "isso é o decreto da minha vontade sobre os viventes;
assim agradou aos meus olhos; a partir desse momento, ordeno-lhes pela
minha Palavra.
3 "Foi assim que determinei desde o princípio para o ser, e que desde

18
sempre esteve projetado na imagem que estava diante de mim,
anteriormente à sua existência, imagem essa que agora acabaste de ver."
4 Eu disse: "Poderoso, Furte, Eterno!O que é a multidão desse quadro,
uns de um lado e outros de outro lado?"
5 Ele falou-me: "Os do lado esquerdo são a massa das gerações
anteriores e das que ainda depois de ti virão; uns deles são destinados ao
julgamento e à renovação, outros à vingança e à perdição, no fim do
mundo.
6 "Os do lado direito são o povo que eu me reservei dentre os povos
que a Azazel pertencem.
7 "Eles constituem o povo que determinei que haverá de nascer de ti, e
que trará o nome do meu povo."
Capítulo 23
Queda em pecado de Adão:
1 "Agora, volve-te mais uma vez para a visão, e olha quem foi aquele
que outrora desencaminhou Eva, e o que foi o fruto da árvore! Também
deverás saber o que será da tua geração e do teu povo, e o que ainda lhe
acontecerá no fim dos tempos!
2 "E aquilo que não consegues entender eu te revelarei; pois tu és muito
agradável aos meus olhos. Eu desejo dizer-te o que eu guardo aqui no
meu coração."
3 Eu olhei de novo para a visão, e os meus olhos percorriam o Jardim
do Éden.
4 Lá eu vi um homem, muito grande e sobremodo robusto, de aparência
incomparável, abraçando uma mulher, que ao homem se igualava em
aparência e porte.
5 Ambos estavam sob uma árvore do Éden, e o fruto dessa árvore se
assemelhava a uma uva vinífera; e atrás da árvore encontrava-se um ser
parecido com uma serpente, e possuía mãos e pés como um homem, e
asas nos ombros, seis na sua direita e seis na sua esquerda.
6 Eles seguravam as uvas em suas mãos, e ambos delas comiam,
enquanto se abraçavam, segundo eu vi:

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7 Perguntei: "Quem são àqueles que mutuamente se abraçam? E quem é
aquele que junto deles se encontra? E que fruta é essa que eles consomem,
ó Eterno, Forte, Único?"
8 Ele falou: "isso é o mundo dos homens, e aquele é Adão, e aquilo é o
seu apetite sobre a terra.
9 "E aquela é Eva. Aquele porém que entre ambos se encontra significa
a ausência de Deus; a sua ousadia termina em perdição, em Azazel."
10 Eu falei: "Eterno, Forte, Único! Porque a ele um tal poder, a ponto
de levar à ruína a raça humana em suas fibras sobre a terra?"
11 Ele disse-me: "Os que desejam o mal — quanto odeio isso naqueles
que o praticam — a esses eu entreguei no poder dele, obrigando-se eles a
amá-lo."
12 Eu falei: "Eterno, Forte, Único! Por que tu quiseste que no coração
dos homens o mal fosse tão desejado?
13 "Encolerizas-te com aquilo que desejaste, com aquele que pratica o
que nenhum proveito traz à tua criação."
Capítulo 24
Espelho do mundo:
1 Ele falou-me: "Encolerizo-me com as nações por tua causa, e pior
causa do teu povo, que depois de ti será segregado e que, tal como vês na
imagem, é oprimido por um peso.
2 "Assim, eu te revelo aquilo que virá, o muito que ainda acontecerá
nos últimos dias.
3 "Observa agora tudo isso na visão."
4 Eu olhei atentamente, e lá eu vi o que existiu antes de mim na criação.
5 Eu vi Adão, e junto dele Eva, com eles também os pérfidos
adversários; e Caim, que através do Adversário cometeu o delito; e o Abel
assassinado, e a desgraça que aquele sobre-veio através do infame.
6 Lá eu vi também a impudicícia e aqueles que a procuravam, a
poluição e o desejo dela, bem com o fogo da iniqüidade nas partes mais
profundas da terra.
7 Lá eu vi o latrocínio, e àqueles que o cometiam, bem como a

20
aplicação do seu castigo, e sua sentença na grande corte do julgamento.
8 Então eu vi homens nus, como suas faces voltadas umas contra as
outras, e suas vergonhas, sua paixão mútua e seu castigo.
9 Eu vi também os cobiçosos, portando em sua mão o título de cada
transgressão; o seu silêncio, a sua solidão, entregues a desgraça.
Capítulo 25
Espelho do mundo:
1 Ali eu vi a imagem do ídolo da cólera, semelhante às obras talhadas
em madeira, fabricadas por meu pai.
2 Sua estátua era um bronze reluzente, e diante dele um homem em
adoração; e em frente um altar, tendo por cima um menino degolado, na
presença do ídolo.
3 Eu perguntei: "Que espécie de ídolo é este? O que é enfim o altar?
Pois a sua beleza se parece com o esplendor que se encontra sob o teu
trono.
4 "O que é o templo que estou vendo, tão magnífico em arte? Pois a sua
beleza se parece com o esplendor que se encontra sob o teu trono."
5 Ele falou: "Ouve, Abraão! Aquilo que estás vendo, o Templo,o altar,
a magnificência, representam para mim o Santuário erigido em nome da
minha glória, onde se recolhem todas as orações dos homens, bem como o
aparecimento de reis e profetas, e tudo o que determino em matéria de
sacrifícios para o meu povo, que de ti haverá de proceder.
6 "Todavia, a estátua que viste, é a minha cólera, à qual me incita o
povo que nascerá de ti.
7 "Contudo, o homem que viste como o degolador é aquele que incita
aos sacrifícios criminosos; tudo isso é um testemunho do Juízo Final, já
no início da criação."
Capítulo 16

21

A predestinação:
1 Eu falei: "Eterno, Forte, Único! Por que motivo dispuseste que tudo
assim deveria ser? E agora tudo tornas manifesto."
2 Ele falou-me: "Ouve, Abraão! Entende o que eu vou te dizer!
Responde-me quando eu te perguntar!
3 "Por que o teu pai não prestou atenção à tua voz e não abandonou a
diabólica idolatria, até que ele pereceu, e com ele toda a sua casa?"
4 Eu respondi: "Eterno, Forte, Único! isso aconteceu por não ter ele
nenhuma intenção de dar-me ouvidos; eu, por meu lado, também não
aceitei as suas obras."
5 Ele então disse-me: "Escuta, Abraão! Assim como a vontade do teu
pai está nele, e como está em ti a tua, assim está em mim a determinação
da minha Vontade, preparada para todo o tempo futuro, antes que tu a
conheças e antes que vejas o porvir com os teus olhos.
6 "Na visão podes constatar o que será daqueles que procederão do teu
tronco."
Capítulo 27
A história de Israel:
1 Eu olhei e vi. Aquela imagem começou a movimentar-se, e do seu
lado esquerdo saiu a população dos pagãos, que assaltaram aos do lado
direito, homens, mulheres e crianças. A uns eles degolavam, a outros
faziam prisioneiros.
2 Eu vi corno se precipitavam na direção deles, procedentes de quatro
portões, e corno eles incendiavam o Santuário, e dentro dele saqueavam
os objetos sagrados.
3 Eu falei: "Eterno, Único! O povo que de mim se originou, e que tu
acolheste, será espoliado pelas hordas dos pagãos.
4 "Uns os matam, outros os prendem como a estranhos. Lançam fogo
ao Santuário, roubam e destroem os objetos preciosos do seu interior.
5 "Eterno, Forte, Único! Cessem agora as obras da maldade, realizadas
com fúria nefanda! Mostra-me agora, de preferência, aqueles que

22
cumprem o que mandaste, em obras de justiça! Pois isso está em teu
poder."
6 Ele falou-me: "O tempo da probidade acontecer-lhes-á por primeiro,
através do exemplo de reis e homens piedosos. De antemão eu os criei,
predeterminando que alguns deles os governem.
7 "Mas destes sairão também homens que só pensarão em seu proveito
próprio. Foi isso que eu te mostrei, e foi isso que viste."
Capítulo 28
O tempo do mundo:
1 Eu disse: "Forte, Eterno, Único! Santo pela tua própria força!
2 "Ouve com clemência a minha súplica! — Foi por isso que até aqui
me trouxeste —. Dá-me pois esclarecimento!
3 "Pois que me transportas-te para as tuas alturas, revela a mim, teu
predileto, tudo quanto eu possa perguntar-te. Acontecerão ao longo do
tempo essas coisas que eu vi?"
4 Ele então mostrou-me a massa do seu povo, e disse-me: "Através dos
quatro portões que vês, serei por eles provocado, e assim também por suas
ações acontecerá a minha vingança.
5 Pois do lado do quarto portão, de cem anos e de uma hora dos
mundos — está mesma corresponde a cem anos — há de reinar a desgraça
por obra dos pagãos."
Capítulo 29
As horas dos mundos:
1 Eu disse: "Eterno, Poderoso, Único! E a quanto tempo corresponde
uma hora dos mundos?"
2 Ele disse: "Determinei doze horas para esse período do mundo
perverso, que deverá instalar-se no reino dos pagãos e na tua própria
descendência. Da forma como vês, assim será até o fim dos tempos.
3 "Calcula e compreende! observa a visão!"

23
4 Eu olhei, e vi um homem, procedente do lado esquerdo dos pagãos;
homens, mulheres e crianças saíam do mesmo lado, grandes multidões,
que a ele prestavam adoração,
5 E vejo ainda: muitos vinham do lado direito, e alguns deles
injuriavam àquele homem e outros o golpeavam; outros porém o
adoravam.
6 Eu vi como estes o adoravam. Então Azazel se aproximou e o adorou,
e beijou a sua face; depois andou-lhe à volta e postou-se atrás dele.
7 Eu falei: "Eterno, Poderoso, Único! Quem é àquele homem insultado
e golpeado, que recebeu a adoração também dos pagãos e de Azazel?"
8 Ele falou: "Escuta, Abraão! O homem que viste, injuriado e batido, e
depois adorado, é a trégua que será concedida pelos pagãos ao teu povo,
naqueles últimos dias, nessas doze horas da era dos ímpios.
9 "Porém, no duodécimo ano do final dos tempos por mim estabelecido,
eu colocarei em evidência esse homem da tua geração, que viste sair do
meu povo.
10 "A ele seguirão todos àqueles que em suas mentes se convertem, e
eles haverão de unir-se, de acordo com o que estabeleci.
11 "Tu viste que muitos saem do lado esquerdo da imagem; eles dão a
entender que muitos dentre os pagãos têm esperança nele.
12 "E aqueles da tua descendência que viste, do lado direito, uns
espancando-o e maldizendo-o, outros adorando o homem, significa:
muitos escandalizar-se-ão com ele.
13 "Ele, no entanto, provará os da tua geração que o adoram, naquela
duodécima hora do final, para abreviar o tempo da impiedade.
14 "Antes que comece o florescimento do tempo da piedade, virá o meu julga-mento sobre os pagãos sem lei, através do povo da tua descendência, que reservei para mim.
15 "Naqueles dias, manda-rei sobre todas as criaturas da terra dez pragas, através da desgraça, doenças, aflições do coração.
16 "Assim, por causa da iniqüidade e da corrupção da criação, que provocaram a minha ira, muitas coisas farei recair sobre todas as gerações dos homens.
17 "Da tua geração sobrarão homens piedosos, em número que conservarei em segredo; eles então, em nome da minha majestade, ocuparão o lugar que previamente lhes preparei, e que viste vazio no quadro.
18 "Eles viverão e se fortalecerão, através de sacrifícios e de duns de justiça e verdade, na era dos piedosos.
19 "Alegrar-se-ão sempre em mim; destruirão aqueles que os destruíram, insultarão aqueles que os injuriaram.
20 "E hão de cuspir no rosto daqueles que outrora os caluniaram, e destes mesmos na verdade eu também zombo. Eles olharão a minha Face e alegrar-se-ão com o meu povo, e acolherão lodos aqueles que, arrependidos, voltarem para mim.
21 "Fica atento, Abraão, ao que viste, e considera o que ouviste!
22 "Discerne o que reconheceste! Volta agora para a tua herança! Eu estarei contigo para sempre."

Capítulo 30
As dez pragas dos pagãos:
1 Enquanto ele ainda falava, eu já me encontrava sobre a terra.
2 Eu disse: "Eterno, Forte, Único!
3 "Já não estou mais na glória em que estive lá no alto, e aquilo que o meu coração procurava entender, não entendi."
4 Ele falou-me: "O que tanto desejavas em teu coração eu te explicarei, pois grande foi a tua vontade de ver as dez pragas que preparo para o mundo dos pagãos, tendo-as previsto com antecedência, para o decurso das doze horas sobre a terra.
5 "Escuta! O que te antecipo ocorrerá da forma seguinte: a primeira praga será a desgraça de uma grande estiagem, a segunda a virulência do fogo em muitas cidades, a terceira, terríveis epidemias dos animais, a quarta, fome do mundo e do seu povo, a quinta, a desordem entre os governantes, terremotos, a espada.
6 "A sexta, massas de granizo e de neve, é sétima, o sepultamento como o de animais selvagens, a oitava, troca destruição pela fome e pela peste; a nona, o castigo da espada e a retração na miséria, a décima, trovões, vozes e arrasadores."

Capítulo 31
O julgamento do mundo:
1 "Então, das nuvens eu tocarei as trombetas e enviarei o meu escolhido, que traz consigo todo o meu poder, em medida igual.
2 "Ele então chamará de todas as nações o meu povo pisoteado, e eu aniquilarei pelo fogo os seus detratores como seus dirigentes neste mundo.
3 "Hei de entregar ao escárnio, nos tempos vindouros, todos aqueles que me cobriram de zombaria.
4 "Pois eu os destinei para alimento .do fogo do inferno, e para isso, considerando que eles circulam sem cessar pelos ares, enchi os seus corpos de vermes naquele mundo subterrâneo.
5 "Neles será reconhecida a justiça do Criador, por lodos aqueles que
escolheram a minha vontade e por todos aqueles que conservaram vivos os meus mandamentos.
6 "Estes exultarão e se rejubilarão com a ruína dos homens que me abandonaram, e que correram atrás de ídolos e de suas iniqüidades.
7 "Eles deverão apodrecer no corpo do verme maligno Azazel, e pelo fogo da língua de Azazel serão queimados.
8 "Eu ainda esperava que eles voltassem para mim; mas não me tributaram o seu amor.
9 "Louvaram muito mais ao Estranho, aderindo aquele a quem não estavam destinados.
10 "Assim, eles abandonaram o Senhor poderoso."

Capítulo 32
Escravidão de Israel no Egito:
1 "Portanto, Abraão, presta agora atenção e olha! Caminha contigo a
tua sétima geração.
2 "Eles vão para a terra estranha; lá serão feitos escravos e contra eles será praticado o mal, mesmo que seja apenas por uma hora dos tempos maus do mundo.
3 "Eu, porém, julgarei àquele povo a que eles servem como escravos."
Fim

APOCALIPSE DAS SEMANAS DE ENOQUE

APOCALIPSE DAS SEMANAS DE ENOCH


APOCALIPSE DAS SEMANAS
Livro de Enoch 93:1-10 , 91:11-17*
4 Qumran Henoc g (4Q212) III-IV § versão espanhol
português E C M - enochm@terra.com.br 14/04/2001

Enoch relembrou seu discurso dizendo: "A propósito dos
filhos da Justiça e acerca do Eleito do mundo, que havia
crescido de uma planta de verdade e de justiça, eles falaram
e deram a conhecer a mim Enoch, filhos meus, segundo o
que me foi revelado todo o entendimento por uma visão
celestial e pela voz dos anjos guardiães e dos santos. Nas
tábuas celestiais é tudo lido e entendido ".

Continuou falando Enoch e disse: "Eu, Enoch, nasci o sétimo,
na primeira semana, na época em que a justiça ainda era
firme. Depois de mím, virá a segunda semana na que
crescerá a mentira e a violência e durante ela terá lugar o
primeiro Final, então, um homem será salvo. E quando esta
semana haver acabado, a injustiça crescerá e Deus fará uma
lei para os pecadores.

"Depois, haverá o final da terceira semana, um homem será
eleito como planta de juízo justo, através do qual crescerá
como planta de justiça para a eternidade. Logo, ao terminar a
quarta semana, as visões dos santos e dos justos aparecerão
e será preparada uma lei para gerações de gerações e um
cercado.
"Depois, no final da quinta semana, uma casa de gloria e
poder será edificada para a eternidade. Logo, na sexta
semana, os que viverem durante ela serão cegados em seu
coração, infielmente, se afastarão da sabedoria. Então um
homem subirá ao céu no final desta semana, a casa de
dominação será consumida pelo fogo e será dispersado todo

a linhagem da raiz escolhida.
"Logo, na sétima semana surgirá uma geração perversa;
numerosas serão suas obras, mas todas estarão no erro. E
no final desta semana serão escolhidos os eleitos como
testemunhas da verdade e da planta de justiça eterna. Lhes
será dada sabedoria e conhecimento por setuplicado. Para
eles executar o juízo arrancarão da raiz as causas da
violência e nela a obra da falsidade.
"Depois disso virá a oitava semana, a da justiça, na qual se
entregará uma espada a todos os justos para que julguem
justamente aos opressores, que serão entregues em suas
mãos. E ao final desta semana os justos adquirirão
honestamente riquezas e será construído o templo da realeza
de O Grande, em seu esplendor eterno, para todas as
gerações.
"Após isto, na nona semana se revelarão a justiça e o juízo
justo à totalidade dos filhos da terra inteira e todos os
opressores desaparecerão totalmente da terra e serão
lançados ao pouso eterno e todos os homens verão o
caminho justo e eterno.
"Depois disso, na décima semana, em sua sétima parte, terá
lugar o Juízo Eterno. Será o tempo do Grande Juízo e Ele
executará a vingança no meio dos santos. Então o primeiro
céu passará e aparecerá um novo céu e todos os poderes
dos céus se levantarão brilhando eternamente sete vezes
mais. E depois disso, haverá muitas semanas, cujo número
nunca terá fim, nas quais se fará o bem e a justiça. O pecado
já não será mencionado jamais."

O livro de Enoch é um texto apócrifo que é mencionado por
algumas cartas do Novo Testamento (Judas, Hebreus e 2a de
Pedro). Até a elaboração da Vulgata, por volta do ano 400, os
primeiros seguidores de Cristo o mencionavam abertamente
em seus textos e o aceitavam como real. Após a Vulgata ele

caiu no esquecimento. Entretanto, o livro é muito interessante
e parece real. O livro de Enoch foi preservado somente em
uma cópia, na totalidade, em etíope e, por esta razão,
também é chamado de Enoch etíope. Este documento foi
encontrado, incompleto, entre os Manuscritos do Mar Morto.
CAPITULO I - Profecias sobre o fim dos tempos
"1 - Eis as palavras de Enoch pelas quais abençoou os eleitos
e os justos que viverão no tempo da aflição, quando serão
reprovados todos os maus e ímpios. Enoch, homem justo que
caminha diante do Senhor, quando seus olhos foram abertos,
e quando contemplou uma santa visão nos céus, fala e
pronuncia: Eis o que me mostram os anjos,
2 - Esses anjos me revelarão todas as coisas e me darão a
inteligência do que jamais vi, que não deve ocorrer nesta
geração, mas numa geração afastada, para o bem dos
eleitos,
3 - Foi por eles que pude falar e conversar com aquele que

deve deixar um dia sua celeste morada, o Santo e Todo-
poderoso, o Senhor desse mundo,

4 - Que um dia deve pôr em convulsão o pico do monte Sinai,
aparecer em seu tabernáculo e se manifestar com toda a
força de sua celeste potência.
5 - Todos os vigilantes serão surpreendidos, todos ficarão
consternados.
6 - Todos serão tomados pelo medo e pelo espanto, mesmo
nas extremidades da terra. As altas montanhas serão

sacudidas, as colinas elevadas serão diminuídas, escoar-se-
ão diante de sua face como o círio diante da drama. A terra

será submersa e tudo aquilo que a habitar, perecerá, ora,
todos os seres serão julgados, mesmo os justos.
7 - Mas os justos obterão a paz, Ele conservará os eleitos e
sobre eles exercerá sua clemência.
8 - Então tornar-se-ão a propriedade do Senhor Deus, e
serão por Ele cumulados de felicidade e bênçãos; e o

esplendor da Divindade os iluminará."
CAPITULO XLIV - Profecias sobre Jesus, os tempos atuais e
a perseguição aos cristãos
1 - Lá, vi então o Ancião dos dias cuja cabeça estava como
que coberta de lã branca e com ele, um outro, que tinha a
figura de um homem. Esta figura era plena de graça, como a
de um dos santos anjos. Então interroguei a um dos anjos
que estava comigo e que me explicou todos os mistérios
relativos ao Filho do homem. Perguntei-lhe quem era ele, de
onde vinha e porque acompanhava o Ancião dos Dias.
2 - Respondeu-me nessas palavras: "Este é o Filho do
homem a quem toda justiça se refere, com quem ela habita, e
que tem a chave de todos os tesouros ocultos; pois o Senhor
dos espíritos o escolheu preferencialmente e deu-lhe glória
acima de todas as criaturas.
3 - Esse Filho do homem que viste, arrancará reis e
poderosos de seu sono voluptuoso, fá-los-á sair de suas
terras inamovíveis, colocará freio nos poderosos, quebrará os
dentes dos pecadores.
4 - Expulsará os reis de seus tronos e de seus reinos, porque
recusam honrá-lo, de tornarem públicos seus louvores e de
se humilharem diante daquele a quem todo reino foi dado.
Colocará tormentos na raça dos poderosos; forçá-los-á a se
deitarem diante dele. As trevas tornar-se-ão sua morada e os
vermes serão os companheiros de sua cama; nenhuma
esperança para eles de sair desse leito imundo, pois não
consultaram o nome do Senhor dos espíritos.
5 - Desprezarão os astros do céu e elevarão as mãos contra
o Todo-Poderoso; seus pensamentos serão voltados apenas
para a terra na qual desejarão estabelecer sua morada
eterna; e suas obras serão apenas obras de iniquidade.
Colocarão suas alegrias em suas riquezas e sua confiança

nos deuses fabricados por suas próprias mãos. Recusar-se-
ão a invocar o Senhor dos espíritos, expulsá-lo-ão de seus

templos.
6 - E os fiéis serão perseguidos pelo nome do Senhor dos
espíritos.
CAPITULO XLV - Profecias sobre o julgamento
1 - Nesse dia, as preces dos santos subirão da terra até ao
pé do trono do Senhor dos espíritos.
2 - Nesse dia, os santos que habitam nos céus se reunirão e
com voz unânime, rezarão, suplicarão, celebrarão, louvarão,
exaltarão o nome do Senhor dos espíritos, pelo sangue dos

justos, espalhado por ele; e essas preces dos justos elevar-
se-ão incessantemente ao trono do Senhor dos espíritos, a

fim de que lhes faça justiça, e que sua paciência pelos maus
não seja eterna.
3 - Nesse tempo, vi o Ancião dos dias, sentado no trono de
sua glória. 0 livro da vida estava aberto diante dele e todas as
potências do céu se mantinham curvadas diante dele e ao
seu redor.
4 - Então os corações dos santos estavam inundados de
alegria, porque o tempo da justiça era chegado, a prece dos
santos havia sido ouvida e o sangue dos justos havia sido
apreciado pelo Senhor dos espíritos.

Fim

PRIMEIRA CARTA DE SÃO CLEMENTE AOS CORÍNTIOS

PRIMEIRA CARTA DE SÃO CLEMENTE AOS CORÍNTIOS

INTRODUÇÃO
A Igreja de Deus estabelecida transitoriamente em Roma à Igreja de Deus estabelecida transitoriamente em Corinto, aos eleitos santificados na vontade de Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo: que a graça e a paz vos sejam dadas em plenitude da parte de Deus todo-poderoso, por Jesus Cristo.

CAPÍTULO I
1 - Por causa das desgraças e calamidades que repentina e continuamente se abateram sobre nós, talvez estejamos a tratar tardiamente dos acontecimentos que se deram entre vós, meus caros, e daquele motim, não conveniente a eleitos de Deus, iniciado por algumas pessoas irrefletidas e
audaciosas, de uma forma sórdida e ímpia, surgido de tal ponto de loucura, que o vosso nome, dantes estimado, acatado e celebrado por todos, fosse seriamente denegrido.
2 - Ora, quem é que esteve entre vós e não elogiou vossa fé extraordinária e firme? Quem não admirou vossa piedade consciente e suave em Cristo? Quem não louvou a tradição da vossa hospitalidade generosa? Ou quem não vos felicitou por vossa doutrina perfeita e segura?
3 - Fazíeis tudo sem distinguir as pessoas e andáveis dentro dos preceitos de Deus, sujeitando-vos aos vossos guias e respeitando devidamente os vossos anciãos. Aos jovens, transmitíeis conceitos prudentes e honrosos; às mulheres, recomendáveis para que cumprissem todos os seus deveres com consciência irrepreensível, de forma santa e pura, amando convenientemente seus maridos; e ainda as ensináveis a administrar a vida doméstica dentro das normas de obediência e da mais absoluta discrição.

CAPÍTULO II
1 - Vós todos ainda possuíeis sentimentos de humildade, isentos de qualquer vaidade, mais dispostos a submeter-vos do que a submeter, dando com mais gosto do que esperando receber. Contentando-vos com o que Cristo vos dava como alimento e meditando sobre suas palavras, vós as guardáveis com tanto cuidado no coração mesmo enquanto tínheis sofrimentos pairando diante dos vossos olhos.
2 - Assim, uma paz profunda e abençoada comunicava-se a todos, e um desejo insaciável de praticar o bem, assim como a plena efusão do Espírito Santo, eram produzidos em todos.
3 - Repletos de uma santa vontade, em bom zelo, levantáveis as vossas mãos piedosamente para o Deus onipotente, suplicando-lhe sua misericórdia quando cometíeis involuntariamente alguma falta.
4 - Dia e noite, travavam-se entre vós uma luta em favor da total fraternidade, para conseguir, pela misericórdia e conscienciosidade, a salvação de todos os seus eleitos.
5 - Autênticos e incorruptos vós éreis, não possuíeis malícia uns para com os outros.
6 - Toda revolta e todo cisma vos causavam horror. Ficáveis entristecidos ao ver as faltas dos outros; o que os outros cometiam, tínheis como vossas próprias faltas.
7 - Não havia por que vos arrepender de qualquer omissão de bondade, já que estáveis dispostos a toda boa ação.
8 - Ornados por uma conduta virtuosa e honrosa, cumpríeis todas as vossas ações em seu temor. Os mandamentos e as justas normas do Senhor estavam escritos sobre as fibras dos vossos corações.

CAPÍTULO III
1 - Plena reputação e prosperidade vos foi concedida, cumprindo-se a palavra da Escritura: "O bem amado comeu e bebeu, engordou e encheu-se de comida, e tornou-se desobediente".
2 - Daí nasceram o ciúme e a inveja, a discórdia e a revolta, a perseguição e a desordem, a guerra e o cativeiro.
3 - Desta forma, os desonrados levantaram-se contra os honrados, os desrespeitados contra os respeitados, os insensatos contra os sensatos, os jovens contra os anciãos.
4 - Por isso, afastou-se para longe a justiça e a paz no exato momento em que cada um abandonou o temor de Deus e obscureceu o olhar em sua fé, não andando conforme o que prescreve os seus mandamentos, não se conduzindo da maneira digna de Cristo. Ao invés, cada qual anda segundo os desejos de seu coração perverso, admitindo em si um ciúme injusto e ímpio, ciúme este que gerou a morte para o mundo.

CAPÍTULO IV
1 - Porque assim está escrito: "E aconteceu, após alguns dias, que Caim oferecesse a Deus um sacrifício com os frutos da terra e também, por sua vez, Abel oferecesse das primícias dos rebanhos e de suas gorduras.
2 - E Deus olhou para Abel e seus dons, não reparando, porém, em Caim e seus sacrifícios.
3 - Então Caim se entristeceu muito e seu rosto se abateu.
4 - Então o Senhor falou a Caim: 'Por que te tornaste sombrio e por que teu rosto anda abatido? Acaso não pecaste? Ora, embora tua oferenda seja correta, tua escolha não o foi.
5 - Acalma-te, pois a oferenda voltará a ti e poderás dispor dela'.
6 - Então Caim falou a Abel, seu irmão: 'Vamos para a planície'. E ocorreu que, enquanto estavam na planície, Caim se levantou contra Abel, seu irmão, e o matou".
7 - Vide, irmãos: foram o ciúme e a inveja que produziram o fratricídio.
8 - Por causa do ciúme, nosso pai Jacó teve que fugir da presença de Esaú, seu irmão.
9 - O ciúme fez com que José fosse perseguido à morte e acabasse preso.
10 - Foi o ciúme que obrigou Moisés a fugir da presença do faraó, rei do Egito, na hora de ouvir um de seus compatriotas: quem é que te constituiu árbitro e juiz sobre nós? Não queres matar-me, da mesma forma como ontem mataste o egípcio?
11 - Por causa do ciúme, Aarão e Maria foram expulsos do acampamento.
12 - O ciúme conduziu Datã e Abirão vivos para o Mundo dos Mortos, por se revoltarem contra Moisés, servo de Deus.
13 - Por ciúme, Davi não apenas obteve inveja da parte dos estrangeiros, como também foi perseguido por Saul, rei de Israel.

CAPÍTULO V
1 - Agora, para colocarmos fim aos exemplos antigos, passemos aos atletas que nos tocam de perto; verifiquemos os nobres exemplos da nossa geração.
2 - Por ciúme e inveja foram perseguidos e lutaram até à morte as nossas colunas mais elevadas e retas.
3 - Fixemos nossos olhos sobre os valorosos apóstolos:
4 - Pedro, que por ciúme injusto não suportou apenas uma ou duas, mas numerosas provas e, depois de assim render testemunho, chegou ao merecido lugar da glória.
5 - Por ciúme e discórdia, Paulo ostentou o preço da paciência.
6 - Sete vezes acorrentado, exilado, apedrejado, missionário no Oriente e no Ocidente, recebeu a ilustre glória por sua fé.
7 - Ensinou a justiça no mundo todo e chegou até os confins do Ocidente, dando testemunho diante das autoridades.
Assim, deixou o mundo e foi buscar o lugar santo, ele, que se tornou o mais ilustre exemplo da paciência.

CAPÍTULO VI
1 - A esses homens de conduta santa, ajuntou-se grande multidão de eleitos que, por ciúme, suportaram muitos insultos e torturas, transformando-se no mais belo exemplo entre nós.
2 - Por ciúmes, mulheres foram perseguidas, como Danaídes e Dircês, e sofreram afrontas cruéis e sacrílegas, percorrendo a segura trajetória da fé e obtendo o nobre prêmio, elas, que
eram fracas de corpo.
3 - Foi o ciúme que separou esposas e maridos, afrontando a palavra de nosso pai Adão: "Ela é osso dos meus ossos e carne da minha carne".
4 - Ciúme e intriga destruíram grandes cidades e eliminaram nações poderosas.

CAPÍTULO VII
1 - Caríssimos, ao vos escrever tais coisas, não apenas vos levamos a refletir, mas também advertimos a nós mesmos, já que nos encontramos no mesmo campo de batalha, nos esperando a mesma luta.
2 - Abandonemos, assim, as opiniões vazias e tolas, voltando-nos para a gloriosa e santa regra da tradição.
3 - Vejamos o que é belo, agradável e aceito aos olhos daquele que nos criou.
4 - Fixemos a vista no sangue de Cristo e compreendamos o quanto é precioso aos olhos do Pai pois, derramando-o por nossa salvação, ofereceu-o ao mundo inteiro pela conversão.
5 - Percorramos todas as gerações e aprendamos que de geração em geração o Senhor deu possibilidade de conversão àqueles que a Ele quiseram retornar.
6 - Noé anunciou a conversão e os que a aceitaram se salvaram.
7 - Jonas anunciou a ruína aos ninivitas; os que fizeram penitência de seus pecados, por suas súplicas, reconciliaram-se com Deus e alcançaram a salvação, ainda que fossem estranhos a Deus.

CAPÍTULO VIII
1 - Sobre a conversão falaram os ministros da graça de Deus, sob inspiração do Espírito Santo.
2 - Sobre a conversão também falou o próprio Senhor de tudo, ao jurar: "Tão certo como vivo - diz o Senhor - não quero a morte do pecador, mas sua conversão". E acrescentou:
3 - "Convertei-vos de vosso erro, casa de Israel! Dize aos filhos do meu povo: 'ainda que os vossos pecados se amontoassem da terra até o céu, ainda que estes fossem mais vermelhos que a púrpura e mais negros que o saco, se vos voltardes para mim de todo coração e disserdes: 'Pai!', eu vos atenderei como se fosses um povo santo'".
4 - Em outra parte, ainda fala: "Lavai e purificai-vos. Afastai dos meus olhos as maldades de vossas almas. Deixai vossas maldades e aprendei a praticar o bem; procurai a justiça, socorrei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a viúva, e então vinde para colocarmos as coisas em ordem - diz o Senhor. E se os vossos pecados forem como a púrpura, os tornarei brancos como a neve; se forem escarlate como a lã, os farei alvos. Se vos dispuserdes a me escutar, comereis os bens desta terra; porém, se não quiserdes me ouvir, a espada vos devorará - assim fala a boca do Senhor".
5 - No desejo de levar a todos os seus amados a participarem da conversão, fortaleceu-vos por sua vontade todo-poderosa.

CAPÍTULO IX

1 - Por isso, obedeçamos a sua vontade excelsa e gloriosa. Supliquemos, prostrados, pela piedade e bondade. Recorramos à sua misericórdia. Abandonemos a vaidade, a discórdia e o ciúme que conduz à morte.
2 - Fixemos o olhar naqueles que serviram com perfeição a sua magnífica glória.
3 - Tomemos, por exemplo, Henoc, que, encontrado justo em sua submissão, foi arrebatado e não se encontrou indício de sua morte.
4 - Noé, reconhecido fiel, recebeu o encargo de anunciar o renascimento do mundo e o Senhor salvou, por ele, os seres que entraram em harmonia na sua arca.

CAPÍTULO X
1 - Abraão, proclamado "o amigo", se revelou fiel em sua submissão à palavra de Deus.
2 - Por obediência, ele saiu de sua terra, deixou seus parentes e a casa do pai, saindo de uma terra pequenina, parentes sem importância, uma casa modesta, para herdar as promessas de Deus. Pois é Ele quem lhe diz:
3 - "Deixa tua terra, teus parentes e a casa de teu pai, para te dirigires à terra que te mostrarei. Farei de ti um povo grande. Abençoar-te-ei e engrandecerei teu nome; serás abençoado. Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Em ti, todas as tribos da terra serão benditas".
4 - Outra vez, ao se separar de Lot, falou-lhe Deus: "Levanta teus olhos e mede o espaço existente entre ti, entre o norte e o sul, leste e mar: pois toda essa terra vos darei e à tua descendência para sempre.
5 - Farei tua descendência como o pó da terra: se alguém conseguir contar o pó da terra então saberá também contar a tua descendência".
6 - E ainda diz: "Conduziu Deus a Abraão para fora e lhe falou: 'Levanta os olhos para o céu e conta os astros, se é que consegues contá-los. Assim será a tua descendência'. Abraão acreditou em Deus e isso lhe foi imputado como justificação".
7 - Por causa da fé e da hospitalidade, foi-lhe dado um filho na velhice e, por obediência, ele o ofereceu como sacrifício a Deus sobre um dos montes que Ele lhe mostrou.

CAPÍTULO XI
1 - Por causa da hospitalidade e piedade, Lot salvou-se de
Sodoma, quando a terra em redor foi castigada com fogo e
enxofre. Desta forma, Deus deixou claro que não abandona
aqueles que esperam nele, mas que entrega os ímpios ao
castigo e ao suplício.
2 - Sua mulher acompanhava-o na saída, no entanto, não
compartilhava sua fé e crença, transformando-se num sinal
disso, a ponto de reduzir-se a mera estátua de sal até os dias
de hoje, para que todos, assim, possam se inteirar que Deus
pune os desconfiados e os de alma dupla para escárnio de
todas as gerações.
CAPÍTULO XII
1 - Por causa da fé e hospitalidade, Raabe, a prostituta, se
salvou.
2 - Pois quando Jesus, filho de Navé, mandou espiões para
Jericó, o rei daquela nação ficou sabendo que haviam
chegado homens para explorar a terra; então mandou

homens para os prenderem e, depois de presos, matarem-
nos.

3 - Raabe, a hospitaleira, recebeu-os e os ocultou sob a palha
do linho no andar superior.
4 - Quando os emissários do rei se apresentaram e lhe
falaram: "Aqui entraram os espiões que vieram reconhecer

nosso território. O rei manda que os entregueis", ela
respondeu-lhes: "De fato, os homens que procurais entraram
em minha casa, porém já se retiraram e continuam seu
caminho". E ela apontou-lhes em direção oposta.
5 - Então ela falou aos espiões: "Disto sei e me convenci: o
Senhor vos entregou esta terra porque o medo e pânico se
apossaram de seus habitantes. Quando a conquistardes,
salvai a mim e a casa de meu pai".
6 - Os espiões responderam: "Será como falaste! Quando nos
vires aproximar, reúnam-se todos os teus parentes sob o teto
da tua morada e todos serão salvos; porém, aqueles que
estiverem do lado de fora perecerão".
7 - Como outro sinal, propuseram-lhe ainda que
dependurasse algo vermelho na casa, tornando evidente que,
pelo sangue do Senhor, viria à redenção para todos aqueles
que cressem e esperassem em Deus.
8 - Vede, amados: nesta mulher não houve apenas fé, mas
também o dom da profecia.
CAPÍTULO XIII
1 - Portanto, tornemo-nos humildes, irmãos, deixando de lado
toda a ostentação, o orgulho, o excesso e a ira, e cumpramos
o que está escrito. Pois assim diz o Espírito Santo: "Não se
orgulhe o sábio em sua sabedoria, nem o forte em sua força,
nem o rico em sua riqueza, mas aquele que se gloriar, glorie
no Senhor, procurando-O e praticando o direito e a justiça".
Antes de mais nada, recordemos as palavras ditas por Jesus,
mestre da equidade e grandiosidade.
2 - Pois foi ele que disse isto: "Sede misericordiosos para
obterdes misericórdia. Perdoai para que sejais perdoados.
Assim como fizerdes, assim vos será feito. Da forma como
derdes, assim vos será dado. Do modo como julgardes,
assim sereis julgados. Como fizerdes o bem, assim vos será
feito. Com a medida que medirdes, também vos será medido

em troca".

3 - Com este mandamento e estes preceitos, fortaleçamo-
nos, para que possamos andar humildes e submissos às

suas santas palavras. Pois a sagrada palavra assim reza:
4 - "Para quem hei de olhar senão para o manso e pacífico e
para aquele que respeita os meus oráculos?".
CAPÍTULO XIV
1 - É justo e santo, irmãos, tornarmo-nos submissos a Deus
do que seguirmos aqueles que se deixam guiar pela
arrogância e orgulho, aos promotores do ciúme.
2 - Estaremos nos expondo não a um prejuízo qualquer, mas
a um grande perigo, se nos entregarmos aos caprichos dos
homens, que buscam a discórdia e a revolta para nos separar
da boa conduta.
3 - Sejamos bondosos uns para com os outros, seguindo a
misericórdia e doçura do nosso Criador.
4 - Pois assim está escrito: "Os mansos habitarão a terra, os
inocentes serão deixados sobre ela enquanto os pecadores
serão exterminados dela".
5 - E em outro ponto: "Vi o ímpio gabar-se orgulhoso como os
cedros do Líbano; passei e ele não mais existia; então
procurei seu lugar e não encontrei. Guarda a inocência e
observa a justiça pois se consagra a memória do homem que
guarda a paz".
CAPÍTULO XV
1 - Unamo-nos, pois, àqueles que mantêm a paz na
santidade e não aos que defendem a paz por pura hipocrisia.
2 - Pois é dito em algum lugar: "Este povo me honra com os
lábios, mas seu coração está longe de mim".
3 - E novamente: "Abençoavam com a boca, mas
amaldiçoavam com o coração".

4 - E novamente: "Amavam-no com os lábios, mas mentiam-
lhe com a língua; o coração não era sincero para com Ele,

nem se mantinham fiéis à sua aliança.
5 - Por isso, tornem-se mudos os lábios ímpios que proferem
maldades contra os justos". E ainda: "Que o Senhor
extermine todos os lábios ímpios, a língua arrogante e todos
os que dizem: 'Engrandecemos a nossa língua, em nossos
lábios estão o poder! Quem é o nosso Senhor?'.
6 - Por causa da miséria dos pobres e dos gemidos dos
desamparados, levantar-me-ei agora - diz o Senhor - e os
colocarei a salvo.
7 - Julgarei seu caso com isenção".
CAPÍTULO XVI
1 - Porque Cristo pertence aos humildes e não aos se elevam
acima da comunidade.
2 - O cetro da majestade de Deus, nosso Senhor Jesus
Cristo, não veio com ares de arrogância e orgulho, muito
embora assim pudesse ter feito, mas com humildade, como,
sobre ele, o Espírito Santo anunciou. Pois disse:
3 - "Senhor, quem deu crédito à nossa palavra? A quem se
revelou o braço do Senhor? Nós anunciamos na presença
Dele: Ele é como o escravo, como a raiz numa terra sedenta!
Não possui beleza, nem brilho. Nós o vimos: não tinha
beleza, nem aparência agradável. Ao invés, sua beleza era
desprezível e perdia para a beleza dos homens. Um homem
açoitado, trabalhado e acostumado a sofrer fraquezas;
menosprezado, afastou o rosto e não contou para nada.
4 - Ele carrega nossos pecados e sofre por nós. Vimos nele
um homem atormentado, açoitado e humilhado.
5 - Foi coberto de chagas por causa de nossos pecados;
tornou-se debilitado por causa de nossos crimes; o castigo
que nos educa para a paz caiu sobre ele e nós fomos
curados, graças às suas chagas.

6 - Todos, como ovelhas, andávamos desviados; o homem
havia se desviado de sua rota.
7 - O Senhor o entregou em resgate por nossos pecados e
ele não abriu a boca diante dos maus tratos. Como cordeiro,
foi conduzido ao matadouro e, como ovelha, na frente do
tosquiador permaneceu calado, sem abrir a boca. Na
humilhação foi levantada sua condenação.
8 - Quem pregava sua geração já que sua vida será tirada da
terra?
9 - Por causa das iniqüidades do meu povo, ele será levado à
morte.
10 - E Eu entregarei os ímpios como reféns de sua sepultura
e os ricos em troca da sua morte, pois não cometeu mal
algum, nem culpa foi encontrada em sua boca. Mas o Senhor
quer purificá-lo de suas feridas.
11 - Se oferecerdes um sacrifício por vosso pecado, vossa
alma verá descendência pela longa vida.
12 - O Senhor quer arrancar o tormento de sua alma,
mostrar-lhe a luz e formá-lo na consciência, justificando o
justo que bem serviu a muitos; ele próprio tomará sobre si os
pecados deles.
13 - Por isso terá multidões como herança e distribuirá os
troféus dos poderosos pelo fato de sua alma ser entregue à
morte e ele ter sido contado entre os ímpios.
14 - E ele próprio suportou os pecados de muitos e se
entregou pelos pecados deles".
15 - Ele próprio ainda diz: "Eu, porém, não sou mais que um
verme, não sou homem, mas último entre os homens e
escória do povo.
16 - Todos os que me viram, zombaram de mim, murmuraram
com os lábios e moveram a cabeça em sinal de negação.
Confiou no Senhor, que o livre; se o quiser bem, que o salve".
17 - Vede, amados, que exemplo nos foi dado! Se o Senhor
assim se humilhou, o que faremos nós que chegamos, por
Ele, ao jugo de sua graça?

CAPÍTULO XVII
1 - Tornemo-nos imitadores daqueles que em peles de
carneiros e ovelhas percorriam a terra, anunciando a chegada
de Cristo: pensemos em Elias e Eliseu, também em Ezequiel,
nos profetas e, além destes, naqueles que receberam
testemunho favorável.
2 - Abraão recebeu magnífico testemunho, sendo proclamado
'amigo de Deus'. Mesmo assim, contemplando a glória de
Deus, confessou em sua humildade: "Eu, por mim, sou terra e
cinza".
3 - Também sobre Jó se escreveu desta forma: "Jó, porém,
era justo e irrepreensível; verdadeiro, temente a Deus e
afastado de todo o mal".
4 - Apesar disso, ele próprio se acusa, dizendo: "Ninguém é
isento de impureza, mesmo que sua vida se resumisse a um
só dia".
5 - Moisés foi chamado de 'fiel servidor em toda a casa de
Deus' e através de seu ministério, Deus castigou o Egito com
pragas e sofrimentos. Contudo, mesmo sendo tão
magnificamente exaltado, não se excedeu em palavras
grandiloquentes, mas, ao revelar-lhe o oráculo da sarça, falou
apenas: "Quem sou eu para me enviares? Tenho a voz fraca
e dificuldade para falar".
6 - E novamente assim fala: "Não passo de vapor que sai da
panela quente".
CAPÍTULO XVIII
1 - O que dizer de Davi e seu testemunho? A ele, Deus falou:
"Descobri um homem segundo o meu coração: Davi, filho de
Jessé. Em eterna misericórdia eu o ungi".
2 - Mas também ele falou para Deus: "Tende piedade de mim,
ó Deus, segundo a tua grande piedade e, segundo a tua

grande misericórdia, apaga o meu pecado.
3 - Lava-me sempre mais de minha iniqüidade e purifica-me
do meu pecado, pois reconheço a minha injustiça e o meu
pecado está sempre diante de mim.
4 - Pequei somente contra ti e pratiquei o que é mau perante
os Vossos olhos; para que estejas justificado em tuas
palavras e venças, se te julgarem.
5 - Eis que fui concebido na iniqüidade e no pecado minha
mãe me carregou em seu seio.
6 - Eis que amaste a verdade e me revelaste os obscuros
mistérios da tua sabedoria.
7 - Hás de me aspergir com hissopo e serei purificado; hás de
me lavar e tornar-me-ei mais branco do que a neve.
8 - Hás de fazer-me ouvir o som da alegria e da festa e os
ossos humilhados se rejubilarão.
9 - Afasta o rosto de meus pecados e apaga todas as minhas
iniqüidades.
10 - Cria um coração puro em mim, ó Deus, e forma um
espírito firme em meu peito.
11 - Não me afastes de tua presença e não retires de mim teu
santo espírito.
12 - Restitui-me a alegria da tua salvação e confirma-me com
um espírito magnâmico.
13 - Ensinarei teu caminho aos pecadores e os ímpios hão de
converter-se para ti.
14 - Livra-me de ações sanguinárias, ó Deus, Deus de minha
salvação.
15 - Minha língua exaltará a tua justiça. Senhor, hás de me
abrir a boca e meus lábios proclamarão o teu louvor.
16 - Se tivesses desejado um sacrifício, te-lo-ia oferecido,
porém, não te agradas com holocaustos.
17 - Para Deus, sacrifício é o espírito arrependido. Deus não
desprezará um coração contrito e humilhado".
CAPÍTULO XIX

1 - A humildade e a modéstia de homens tão grandes e
santos foram aprovados pela sua obediência. Os que
receberam as palavras Dele em temor e verdade não só nos
tornaram melhores como também as gerações que nos
precederam.
2 - Assim, após participarmos de muitas grandes e gloriosas
ações, corramos para a meta de paz que nos foi proposta
desde o início. Fixemos o nosso olhar sobre o Pai e Criador
de todo o mundo e agarremo-nos aos seus magníficos e
excelsos dons de paz e benefícios.
3 - Olhemos para Ele em espírito e consideremos com os
olhos da alma sua generosa vontade. Reconheçamos o
quanto é indulgente para com toda a sua criação.
CAPÍTULO XX
1 - Os céus movem-se por Sua disposição e lhe submetem
na paz.
2 - O dia e a noite percorrem o caminho por Ele demarcado,
sem jamais se impedirem mutuamente.
3 - Sol, lua e demais astros giram conforme Sua
determinação, em harmonia e sem desvio algum pelas órbitas
prescritas a cada um deles.
4 - A terra, submissa à Sua vontade, fecunda nas estações
próprias e provém sustento aos homens, animais e todos os
seres vivos, sem se rebelar nem se afastar da ordem por Ele
desejada.
5 - As profundezas insondáveis dos abismos e os
subterrâneos inexplorados se mantêm conforme as Suas leis.
6 - O mar imenso, encerrado dentro da bacia que o contém,
não ultrapassa os limites a ele imposto mas, assim como lhe
foi ordenado, o obedece.
7 - Pois foi Ele quem disse: "Até aqui chegarás e tuas ondas
se quebrarão em ti mesmo".
8 - O oceano, intransponível aos homens, bem como os

mundos atrás dele, ordenam-se pelas mesmas leis do
Senhor.
9 - As estações da primavera, verão, outono e inverno se
sucedem umas às outras em paz.
10 - A força dos ventos cumpre, por sua vez, o serviço dele
sem se desfalecer; as fontes perenes, criadas para gozo e
saúde, oferecem os peitos - sem interrupção - para dar vida
aos homens. Até os animais mais pequeninos fazem suas
reuniões dentro da paz e harmonia.
11 - O grande Criador e Senhor de tudo ordenou todas essas
coisas para que existissem em paz e concórdia, já que deseja
o bem de todas as criaturas, mostrando-se generoso demais
em relação a nós que nos refugiamos em sua misericórdia
por nosso Senhor Jesus Cristo.
12 - A Ele glória e majestade pelos séculos dos séculos.
Amém.
CAPÍTULO XXI
1 - Amados, cuidai para que vossos benefícios tão
numerosos não se transformem em condenação para nós, o
que acontecerá se não formos dignos Dele e não realizarmos
em concórdia o que é bom e agradável a Seus olhos,
2 - pois está dito em alguma parte: "O Espírito do Senhor é
uma lanterna que penetra até o fundo do coração".
3 - Consideremos o quanto está próximo, de forma que nada
do que pensamos, nada do que calculamos permanece-Lhe
oculto.
4 - Assim, é justo que não nos afastemos da Sua vontade.
5 - Devemos preferir chocar homens tolos e insensatos,
exaltados e cheios da arrogância de seus discursos, do que a
Deus.
6 - Reverenciemos o Senhor Jesus, cujo sangue foi
derramado por nós. Respeitemos nossos chefes. Honremos
os anciãos. Eduquemos os jovens a temerem a Deus.

Guiemos nossas mulheres para o bem.
7 - Que elas manifestem o desejo da pureza, a pura intenção
na suavidade. Que, pelo silêncio, demonstrem a moderação
de sua linguagem. Que o amor não fique dependente das
inclinações, mas que seja praticado de modo santo e igual
entre todos aqueles que temem a Deus.
8 - Que nossos filhos participem da educação em Cristo,
aprendendo o quanto pode a humildade perante Deus, o
quanto o amor consegue perante Deus, o quanto o temor
Dele é bom e excelso, salvando a todos os que nele vivem
santamente em pura intenção.
9 - É Ele que investiga nossos pensamentos e desejos. É o
sopro Dele que está presente em nós e que pode ser retirado
por Ele quando quiser.
CAPÍTULO XXII
1 - A fé em Cristo garante todas essas coisas, pois é Ele
mesmo que assim nos convida, pelo Espírito Santo: "Filhos,
vinde e escutai-me: hei de ensinar-vos a temer a Deus.
2 - Quem é o homem que quer vida e aprecia ver dias bons?
3 - Guarda tua língua do mal e teus lábios da traição.
4 - Afasta-te do mal e faze o bem.
5 - Procura e persegue a paz.
6 - Os olhos do Senhor estão voltados para os justos e seus
ouvidos para as suas súplicas. Mas a face do Senhor se volta
contra os que praticam o mal, destruindo a memória deles
sobre a terra.
7 - O justo clama e o Senhor o atende, livrando-o de todas as
tribulações.
8 - Muitos são os flagelos do pecador, já a misericórdia cerca
os que esperam no Senhor.
CAPÍTULO XXIII
1 - O Pai todo-poderoso e misericordioso tem entranhas para

os que O temem e, assim, distribui de forma bondosa e
amorosa Suas graças àqueles que se aproximam Dele com o
coração simples.
2 - Não hesitemos por causa disso, nem se orgulhe nossa
alma por causa dos Seus dons ricos e magníficos.
3 - Que nunca se aplique a nós a passagem da Escritura que
diz: "Infelizes os que hesitam no coração e desconfiam na
alma; aqueles que dizem: 'Tais promessas já escutamos na
época de nossos pais e eis que envelhecemos e nada disso
aconteceu'.
4 - Ó insensatos, comparai-vos à uma árvore; reparai na
videira que, primeiro perde as folhas e então brota, a seguir
vêm a folha, então a flor e, depois disso, a uva verde é
seguida da uva madura". Considerai como, em pouco tempo,
o fruto da árvore se torna maduro.
5 - É bem assim que a vontade de Deus se cumpre, em ritmo
veloz e inesperado, como a própria Escritura nos atesta: "Virá
logo e não tardará. Subitamente o Senhor entrará no seu
santuário, o Santo a quem esperais".
CAPÍTULO XXIV

1 - Amados, observemos como o Senhor não cessa de dar-
nos provas de que, no futuro, a ressurreição se concretizará.

Deu-nos prova dela primeiramente ressuscitando Jesus
Cristo dos mortos.
2 - Amados, vejamos como se dá a ressurreição há seu
tempo.
3 - O dia e a noite nos manifestam a ressurreição: dorme a
noite, ressuscita o dia; o dia se retira, chega a noite.
4 - Exemplifiquemos com os frutos da terra: como e de que
modo faz-se a semeadura?
5 - O semeador sai e espalha, semente por semente, pela
terra lavrada, que caem secas e nuas sobre a terra e aí se
desfazem; desta decomposição, a grandiosa providência do

Senhor as ressuscita, de forma que, de uma, aumentam para
muitas e produzem fruto.
CAPÍTULO XXV
1 - Consideremos o sinal prodigioso que ocorre na região
oriental, isto é, nas terras próximas da Arábia.
2 - Aí existe um pássaro chamado fênix, único na espécie e
que vive quinhentos anos. Quando está para morrer, ergue
seu próprio sepulcro usando incenso, mirra e outras plantas
aromáticas e, ao completar seu tempo, aí se introduz e morre.
3 - De sua carne em decomposição nasce uma larva que se
alimenta da matéria putrefata do animal morto e cria asas;
quando se torna forte, levanta o sepulcro onde se encontram
os restos de seu ancestral e carrega-o, voando da terra da
Arábia até a cidade do Egito chamada Heliópolis.
4 - E, em plena luz do dia, aos olhos de todos, transporta e
depõe aqueles restos sobre o altar do sol; a seguir, retoma o
vôo de volta.
6 - Então os sacerdotes examinam os calendários e
percebem que ele chegou ao se completarem quinhentos
anos.
CAPÍTULO XXVI
1 - Devemos, então, considerar grandioso e estranho o fato
de o Criador operar a ressurreição de todos aqueles que lhe
serviram santamente na confiança de uma boa fé, se ele
ilustra até por um pássaro a grandeza de sua promessa?
2 - Lê-se em alguma parte: "Hás de me ressuscitar e eu te
louvarei". E: "Deitei-me e adormeci; levantei-me porque tu
estás comigo".
3 - E Jó adverte novamente: "Ressuscitarás minha carne que
suportou todo esse sofrimento".
CAPÍTULO XXVII

1 - Que nossas almas se apeguem por uma esperança assim
Àquele que é fiel em Suas promessas e justo em Seus juízos.
2 - Aquele que proibiu a mentira, tampouco haverá de mentir,
pois nada junto a Deus é impossível, exceto a mentira.
3 - Portanto, que se acenda novamente dentro de nós a fé
Nele e reconheçamos que todas as coisas estão próximas
Dele.
4 - Com apenas uma palavra de sua grandeza, estabeleceu
tudo e, com uma só palavra, pode destruir tudo.
5 - Quem diria a Ele: "O que fizeste?", e quem resistiria à
força do seu poder? Fará tudo quando e como quiser. Nada
das coisas que ordenou haverá de passar.
6 - Tudo está diante de Seus olhos, nada escapa de Sua
determinação.
7 - Os céus anunciam a glória de Deus e o firmamento
anuncia a obra de Suas mãos. O dia comunica a façanha ao
dia, a noite transmite seu conhecimento à noite. Não há
palavras nem discursos em que suas vozes não são ouvidas.
CAPÍTULO XXVIII
1 - Já que vê tudo e ouve tudo, temamos a Ele e
abandonemos os maus desejos das ações desonestas, para
nos pouparmos por Sua piedade dos futuros juízos.
2 - Para onde poderia algum de nós fugir de Sua mão forte?
Qual mundo receberia alguém que desertou Dele? Pois, em
algum lugar, diz a Escritura:
3 - Para onde fugirei e onde me esconderei de Tua face? Se
subir ao céu, lá estás. Se me retiro para as extremidades da
terra, lá está a tua direita. Se me atiro nos abismos, lá está o
Teu Espírito.
4 - Portanto, para onde poderia alguém ir para escapar
Daquele que tudo envolve?.

CAPÍTULO XXIX
1 - Logo, aproximemo-nos Dele com alma santa, levantando
mãos puras e imaculadas para Ele, amando nosso Pai
bondoso e misericordioso, que nos admitiu como herdeiros.
2 - Porque assim está escrito: "Quando o Altíssimo distribuiu
a herança aos povos, na hora de disseminar os filhos de
Adão, definiu territórios para os povos conforme a multidão
dos anjos de Deus. Tornou-se herança do Senhor o povo de
Jacó e sua partilha foi Israel".
3 - E em outra parte se diz: "Eis que o Senhor toma para si
um povo no meio dos povos, assim como um homem toma as
primícias de sua eira, e deste povo há de proceder ao Santo
dos santos".
CAPÍTULO XXX
1 - Uma vez que formamos a porção santa, façamos tudo o
que leva à santificação. Fujamos da maledicência, abraços
impuros e impudicos, bebedeiras, modismos temporários,
cobiças abomináveis, adultério detestável e soberba
hedionda.
2 - Pois Deus, como se lê, resiste aos soberbos, porém,
concede graça aos humildes.
3 - Portanto, unamo-nos àqueles a quem Deus concede a
graça. Revistamo-nos de concórdia, sejamos continentes
humildes, mantendo-nos afastados de toda murmuração e
calúnia, justificando-nos mais pelas obras do que pelas
palavras.
4 - Pois assim se diz: "Quem muito fala, terá resposta. Qual
homem eloqüente imaginaria que isso fosse justo?"
5 - Bem-aventurado o homem, nascido de mulher, que vive
pouco. Não te tornes pródigo em palavras.
6 - Venha nosso louvor de Deus e não de nós. Deus odeia

aquele que louva a si próprio.
7 - O testemunho de nossas boas ações seja dado pelos
outros, como assim também aconteceu com nossos pais, que
foram justos.
8 - A arrogância, a presunção e a audácia se assentam sobre
aqueles que foram malditos por Deus. A discrição, a
humildade e a mansidão habitam junto daqueles que foram
abençoados por Deus.
CAPÍTULO XXXI
1 - Dessa forma, desejemos a bênção Dele e vejamos quais
são os caminhos que levam à bênção. Voltemos aos
acontecimentos desde o princípio.
2 - Por que nosso pai Abraão foi abençoado? Não seria
porque ele praticou a justiça e a verdade pela fé?

3 - Isaac, conhecendo o porvir e cheio de confiança, deixou-
se levar alegremente ao sacrifício.

4 - Jacó, humildemente, abandonou a terra por causa de seu
irmão e foi para junto de Labão, vivendo ali como seu servo,
recebendo os doze cetros de Israel.
CAPÍTULO XXXII
1 - Se alguém refletir com sinceridade sobre cada uma
dessas coisas, reconhecerá a magnificência dos dons de
Deus a Jacó.
2 - É dele que procederão todos os sacerdotes e levitas que
servirão ao altar de Deus. Dele [procede] o Senhor Jesus,
segundo a carne. Dele [procede], através de Judas, os reis,
príncipes e chefes. Por sua vez, os outros cetros de Jacó
também gozarão de não pouca honra, uma vez que Deus
anunciou: "Tua descendência será numerosa como as
estrelas do céu".
3 - Assim, todos atingiram à glória e à grandeza, não por si

mesmos, nem por suas obras ou pela justiça praticada, mas
por vontade Dele.
4 - Também igualmente entre nós, que fomos chamados por
Sua vontade em Cristo Jesus, já que não nos justificamos a
nós mesmos, nem por nossa sabedoria ou inteligência, ou
pela piedade ou obras que tenhamos praticado na santidade

do coração, mas através da fé, pela qual o Deus todo-
poderoso justificou a todos desde sempre: a Ele, a glória

pelos séculos dos séculos. Amém.
CAPÍTULO XXXIII
1 - Então, o que faremos, irmãos? Deveríamos renunciar à
prática do bem e desertar de Seu amor? Jamais permita o
Senhor que isso aconteça conosco. Ao contrário, devemos
nos esforçar para cumprir toda a obra boa com
disponibilidade entusiástica,
2 - já que o próprio Criador e Senhor de tudo se regozija de
suas obras.
3 - Foi Ele que firmou os céus com poder soberano e os
ornamentou com inesgotável sabedoria. Separou, também, a
terra da água que a cerca, assentando-a sobre a firmeza de
Sua própria vontade. Aos animais que povoam [a terra],
chamou-os à existência por sua ordem. Ele fez o mar e os
seres que nele habitam, encerrando-os aí com seu poder.
4 - Além disso tudo, com Suas mãos santas e puras, Ele
modelou a mais excelente, a maior de Suas obras: o homem.
E imprimiu nele os traços de Sua própria imagem,
5 - pois assim falou Deus: "Façamos o homem à nossa
imagem e semelhança. E Deus criou o homem; varão e
mulher os criou".
6 - E, enfim, quando terminou todas essas obras, achou-as
boas, abençoou-as e lhes disse: "Crescei e multiplicai-vos".
7 - Reparemos que todos os justos ornamentaram-se de boas
obras e também o próprio Senhor teve prazer em ornar-se

com boas obras.
8 - Já que temos tal exemplo, submetemo-nos sem demora à
sua vontade e, com todas as forças, pratiquemos as obras da
justiça.
CAPÍTULO XXXIV
1 - O bom trabalhador aceita, desinibidamente, o pão que
ganhou com seu trabalho. Já o preguiçoso e negligente foge
do olhar de seu senhor.
2 - Portanto, é necessário que estejamos dispostos a
executar as boas obras, já que elas derivam Dele.
3 - E foi assim que nos preveniu: "Eis o Senhor! Sua
recompensa está diante Dele, para retribuir a cada um
conforme suas obras".
4 - Assim nos exorta a confiarmos Nele de todo o coração,
para que não sejamos preguiçosos nem indolentes para
nenhuma boa obra.
5 - Nossa glória e segurança estão Nele! Submetamo-nos à
sua vontade! Pensemos no grande número de anjos que
estão prontos para servirem à Sua vontade.
6 - Assim diz a Escritura: "Milhares e milhares estavam diante
dele e centenas de milhares o serviam e clamavam: 'Santo,
Santo, Santo é o Senhor dos exércitos. Toda a criação está
cheia de sua glória'".
7 - Também nós, reunidos harmoniosamente com a mesma
finalidade, conscientes de nosso dever, clamamos a ele sem
nos cansarmos, numa só voz, para nos tornarmos
participantes das Suas grandiosas e magníficas promessas,
8 - pois é Ele quem diz: "Nenhum olho viu, nenhum ouvido
escutou e nenhum coração humano penetrou o que Deus de
grande preparou para os que Nele confiam."
CAPÍTULO XXXV
1 - Meus amados, como são ricos e admiráveis os presentes

de Deus!
2 - Vida em imortalidade, esplendor em justiça, verdade em
liberdade, fé em confiança, continência em santidade... e tudo
isso chegou ao nosso conhecimento.
3 - Então, o que não há de estar preparado para os que nele
aguardam? O Criador e Pai dos séculos, o próprio Santíssimo
conhece a grandeza e a beleza de seus dons.
4 - Lutemos, assim, para sermos contados no número dos
que Nele esperam, para nos tornarmos participantes de Seus
dons prometidos.
5 - Porém, como dar-se-á isso, amados? Fixando nossa
mente com confiança em Deus, procurando o que Lhe é
agradável e aceito, cumprindo o que convém à Sua santa
vontade, seguindo o caminho da verdade, afastando de nós
toda injustiça, maldade, ambição, dissensões, malignidade,
dolos, murmurações, difamações, recusas de Deus, soberba,
jactância, vaidade e falta de hospitalidade.
6 - Os praticantes de tais obras são réus do ódio de Deus,
[mas] não apenas os que as praticam, como também quem
as aprovam.
7 - Assim diz a Escritura: "Porém Deus disse ao pecador:
'Para que explicas os meus mandamentos e pronuncias sobre
a minha aliança?
8 - Detestaste a disciplina e abandonaste minhas palavras.
Quando vias um ladrão, corrias com ele; combináveis com os
adúlteros. Tua boca estava cheia de malícia e tua língua
provocava enganos. Tranqüilamente difamavas teu irmão e
entregavas ao escândalo o filho de tua mãe.
9 - Era o que fazias enquanto Eu me calava. Impiamente
supunhas que Sou semelhante a ti.
10 - Hei de confundir e obrigar-te a ver-te de frente.
11 - Compreendei, afinal, estas coisas, vós que esqueceis de
Deus, para que não vos arrebate como um leão e já não se
encontre quem vos liberte.

12 - Um sacrifício de louvor há de Me glorificar e aí está o
caminho no qual lhe mostrarei a salvação de Deus'".
CAPÍTULO XXXVI
1 - Amados irmãos, este é o caminho no qual encontramos a
nossa salvação: Jesus Cristo, o sumo-sacerdote de nossas
oferendas, o protetor e auxílio em nossa fraqueza.
2 - Por ele, olhamos para o alto dos céus. Através dele,
descobrimos a face imaculada e soberana de Deus. Através
dele, abriram-se os olhos do nosso coração. Através dele,
nossa inteligência obtusa e obscura se abre ao encontro da
luz. Através dele, o Senhor quis que saboreássemos do
conhecimento imortal. Sendo Ele o esplendor de Sua
grandeza, é tanto maior que os anjos, tendo recebido em
herança um nome superior ao deles.
3 - Pois assim está escrito: "Aquele que fez os ventos serem
seus anjos e as chamas do fogo serem seus servos".
4 - Assim falou o Senhor a respeito de seu Filho: "Meu Filho
és tu. Hoje Eu te gerei: pede-Me e Eu te darei as nações
como herança e os confins da terra como possessão".
5 - E outra vez Lhe diz: "Senta-te à minha direita, até que
ponha teus inimigos como escabelo de teus pés".
6 - Quem seriam estes inimigos? [Certamente,] os maus e os
que se opõem à Sua vontade.
CAPÍTULO XXXVII
1 - Irmãos, militemos com todo entusiasmo sob Suas ordens
indiscutíveis.
2 - Observemos nos soldados que servem sob as bandeiras
dos nossos imperadores, como cumprem as ordens com
disciplina, prontidão e submissão.
3 - Nem todos são comandantes, nem todos são chefes de
mil, nem chefes de cem, nem chefes de cinqüenta e assim

por diante, mas cada qual cumpre, em seu próprio posto, as
ordens emanadas pelo chefe supremo e demais autoridades.
4 - Os grandes nada podem sem os pequenos e os pequenos
nada podem sem os grandes. Em tudo existe alguma mistura
e aí está a vantagem.
5 - Exemplifiquemos com o nosso corpo: a cabeça sem os
pés nada é; nem, tampouco, os pés sem a cabeça. Até os
menores membros do corpo são úteis e necessários ao resto
do corpo. Todos convivem e atuam em submissão unânime
para salvarem todo o corpo.
CAPÍTULO XXXVIII
1 - Que se conserve, portanto, por inteiro o corpo que
formamos em Jesus Cristo e cada um se submeta a seu
próximo, conforme o carisma que lhe foi dado.
2 - O forte cuide do fraco e o fraco, por sua vez, respeite o
forte. O rico preste serviço ao pobre e o pobre, por sua vez,
renda graças a Deus, que lhe deu o suficiente para suprir sua
falta. O sábio manifeste sua sabedoria não por palavras, mas
por obras. O humilde não dê testemunho de si mesmo, mas
permita que o outro o dê a seu favor. O casto em sua carne
não se envaideça pois sabe que é Outro quem lhe dá a
continência.
3 - Afinal, irmãos, analisemos de que matéria fomos feitos,
como e quem fomos ao entrarmos no mundo, de que
sepulcro e escuridão nosso oleiro e criador nos tirou para nos
introduzir em Seu mundo, Ele que preparou para nós todos
os Seus dons antes mesmo que nascêssemos.
4 - Já que temos tudo isso Dele, devemos render-Lhe graças
por tudo. A Ele, a glória pelos séculos. Amém.
CAPÍTULO XXXIX
1 - Ignorantes e insensatos, loucos e incultos zombam e

escarnecem de nós, querendo dar importância às suas idéias.
2 - O quanto pode um mortal, qual a força de alguém que
nasceu da terra?
3 - Está escrito: "Não havia forma aos meus olhos, mas
percebi um hálito e uma voz que dizia:
4 - Como haveria de ser puro um mortal diante do Senhor ou
irrepreensível um homem por causa de suas obras? Se nem
Deus pode confiar em seus servos e se junto a seus anjos
encontrou algo de errado?'
5 - Nem o céu é puro diante Dele, como, então, poderiam ser
[puros] os hóspedes dos ranchos de barro, aos quais
pertencemos, sendo nós do mesmo barro? Esmagou-os
como vermes e entre a manhã e a noite deixaram de existir.
Pereceram porque não podem se ajudar por si próprios.
6 - Soprou sobre eles e morreram por não terem sabedoria.
7 - Grita! Talvez alguém te escute ou vejas algum dos santos
anjos. Realmente a cólera consome o tolo e o ciúme mata
aquele que se desviou.
8 - Tenho visto alguns tolos deitando raízes, mas logo são
consumidos como alimento.
9 - Que seus filhos sejam mantidos longe da salvação, que
sejam desprezados ao baterem à porta dos humildes e não
se encontre quem os liberte. Aquilo que para eles estava
preparado seja alimento dos justos, não encontrando eles
saídas para seus males".
CAPÍTULO XL
1 - Sendo óbvias todas essas coisas e tendo nós sondado as
profundezas do conhecimento de Deus, devemos fazer com
ordem tudo aquilo que o Senhor nos mandou cumprir nos
tempos determinados:
2 - Mandou-nos oferecer os sacrifícios e celebrar o culto, não
ao acaso ou desordenadamente, mas com tempos e horas
marcadas.

3 - Foi Ele quem fixou, por sua decisão altíssima, onde e
quais ministros deverão fazê-los, para que tudo fosse feito de
forma santa, sendo aceito por sua vontade.
4 - Aqueles que fazem suas oferendas dentro dos tempos
determinados, são-Lhe agradáveis e abençoados, já que
seguem as determinações do Senhor e não pecam.
5 - Pois ao sumo-sacerdote foram confiadas tarefas
particulares, aos sacerdotes um lugar próprio, aos levitas
certos serviços e o leigo liga-se pelas ordenações exclusivas
dos leigos.
CAPÍTULO XLI
1 - Irmãos, cada qual de nós agrade o Senhor em sua função,
vivendo em boa consciência, não transgredindo as regras de
seu ofício e exercendo-o com toda a dignidade.
2 - Irmãos, nem por toda parte são oferecidos sacrifícios
perpétuos ou votivos, de expiação e remissão, mas apenas
em Jerusalém. E lá mesmo não se oferece em qualquer
parte, mas apenas na frente do santuário, sobre o altar, e só
depois que o sumo-sacerdote e os seus auxiliares, acima
mencionados, examinarem atenciosamente a oferenda.
3 - Aqueles que praticam algo contra aquilo que agrada Sua
vontade recebem a morte como castigo.
4Irmãos, vede que, quanto maior o conhecimento com que
somos distinguidos, maior o perigo a que nos expomos.
CAPÍTULO XLII
1 - Os apóstolos receberam em nosso favor a boa-nova da
parte do Senhor Jesus Cristo. E Jesus Cristo foi enviado por
Deus.
2 - Portanto, Cristo vem de Deus e os apóstolos [vêm] de
Cristo. Esta dupla missão realizou-se em perfeita ordem por
vontade de Deus.

3 - Munidos de instruções e plenamente assegurados pela
ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, confiantes na
Palavra de Deus, saíram a evangelizar a próxima vinda do
Reino de Deus na plenitude do Espírito Santo.
4 - Assim, proclamando a palavra nos campos e nas cidades,
estabeleceram suas primícias, como bispos e diáconos, dos
futuros fiéis, após prová-los pelo Espírito.
5 - E não se trata de inovação... há séculos que as Escrituras
falam de bispos e diáconos, pois assim se lê em algum lugar:
"Quero estabelecer os bispos deles na justiça e os seus
diáconos na fé".
CAPÍTULO XLIII
1 - Por que estranhar que os apóstolos, a quem Cristo
confiou, da parte de Deus, tal obra, tenham instituído os
acima mencionados? Ora, até o bem-aventurado e servo fiel
em toda casa, Moisés, assinalou tudo o que lhe fora
ordenado nos santos livros. Seguiram-no os demais profetas,
juntando os seus testemunhos às leis por ele instituídas.
2 - No momento de irromper o ciúme a respeito do sacerdócio
e de se disputarem as tribos, isto é, qual delas deveria
ostentar esse título glorioso, ordenou ele aos doze chefes de
tribo que lhe trouxessem bastões com o nome de cada tribo
gravado. Tomando tais bastões, amarrou-os, assinalou-os
com os anéis dos chefes e os depositou sobre a mesa de
Deus na tenda do testemunho.
3 - Então fechou a tenda, selando as chaves da mesma forma
que os bastões.
4 - Disse-lhes, então: "Irmãos, a tribo cujo bastão brotar será
a escolhida por Deus para exercer o sacerdócio e ministrar
seu culto".
5 - Ao amanhecer, reuniu todo Israel, os seiscentos mil
homens, mostrou os selos aos chefes, abriu a tenda do
testemunho e retirou os bastões. E ocorreu que o bastão de

Aarão não só germinara como também produzira fruto.
8 - Então, o que lhes parece, irmãos? Acaso Moisés não
sabia, previamente, que era isso o que ocorreria? Sem dúvida
sabia-o. Mas, para que não irrompesse uma revolta em Israel,
agiu dessa maneira, para que fosse glorificado o nome do
verdadeiro e único Deus. A Ele, a glória pelos séculos dos
séculos. Amém.
CAPÍTULO XLIV
1 - Também os apóstolos sabiam, por Nosso Senhor Jesus
Cristo, que haveria contestações a respeito da dignidade
episcopal.
2 - Por tal motivo e como tivessem pleno conhecimento do
porvir, estabeleceram os acima mencionados e deram, além
disso, instruções no sentido de que, após a morte deles,
outros homens comprovados lhes sucedessem em seu
ministério.
3 - Os que assim foram instituídos por eles ou, mais tarde,
por outros eminentes homens com a aprovação de toda a
Igreja, servindo de modo irrepreensível ao rebanho de Cristo,
com humildade, pacífica e abnegadamente, recebendo o
testemunho favorável por longo tempo e da parte de todos,
não é justo, em nossa opinião, serem depostos de seus
ministérios.
4 - E não será pequena a nossa falta se depusermos do
episcopado aqueles que ofereceram, de maneira santa e
irrepreensível, os sacrifícios.
5 - Bem-aventurados os presbíteros que nos precederam na
caminhada e terminaram sua jornada carregados de frutos e
perfeição. Não têm a temer que alguém os remova do lugar
para eles preparado.
6 - Vemos que vós afastastes a alguns de boa índole de um
ministério que eles honraram de forma digna.

CAPÍTULO XLV
1 - Irmãos, cheios de zelo, disputai pelas coisas que levam à
salvação.
2 - Vós vos aprofundastes nas verdadeiras Escrituras
Sagradas, que nos vêm do Espírito Santo.
3 - Sabeis que elas não são injustas, nem contêm
falsificação. Lá não encontrareis que homens justos foram
depostos por homens santos.
4 - Ao contrário, os justos foram perseguidos por pecadores,
foram encarcerados por ímpios, foram apedrejados por
transgressores da lei, foram assassinados por homens cheios
de ciúmes abomináveis e criminosos.
5 - Tais sofrimentos eles suportam com glória.
6 - O que diríamos então, irmãos? Acaso Daniel foi lançado à
cova por homens tementes a Deus?
7 - E quanto a Ananias, Azarias e Misael: foram eles lançados
à fornalha ardente por homens que praticavam o culto
excelso e glorioso do Altíssimo? De modo algum! Então,
quem praticou tais coisas? Foram indivíduos odiosos, cheios
de maldade e que nutriam tal fúria que mandavam à tortura
todos aqueles que serviam a Deus com santa e irrepreensível
intenção, esquecendo-se que o Altíssimo é defensor e
escudo daqueles que servem a seu Santíssimo Nome com
consciência pura. A Ele, a glória pelos séculos dos séculos.
Amém.
8 - Os que perseveraram na paciência, receberam glória e
honra como herança, foram exaltados e inscritos no livro da
memória de Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.
CAPÍTULO XLVI
1 - Irmãos, temos que nos apegar a tais exemplos,
2 - pois está escrito: "Apegai-vos aos santos porque os que a

eles se apegam serão santificados".
3 - E, de novo, em outra parte, se diz: "Junto ao homem puro
serás puro. Junto ao eleito serás eleito. Junto ao perverso
serás perverso".
4 - Apeguemo-nos, pois, aos puros e justos porque são esses
os eleitos de Deus.
5 - Por que entre vós existem disputas, ódios, contendas,
cismas e guerras?
6 - Acaso não temos um só Deus, um só Cristo e um só
Espírito da graça derramado sobre nós e uma só vocação em
Cristo?
7 - Por que insistimos em separar e despedaçar os membros
de Cristo, nos revoltando contra o próprio corpo, chegando a
uma loucura tal que nos esquecemos que somos membros
uns dos outros? Lembrai-vos das palavras de Nosso Senhor
Jesus,
8 - porque foi Ele quem disse: "Ai daquele homem! Melhor
seria que não tivesse nascido do que escandalizar um dos
meus eleitos. Mais lhe valeria amarrar uma pedra em seu
pescoço e afundar no mar do que perverter um dos meus
eleitos".
9 - Vosso cisma perverteu a muitos, atirou muitos no
desânimo, colocou muitos na dúvida, entristeceu-nos a todos.
E vossa revolta se prolonga...
CAPÍTULO XLVII
1 - Tornai a ler a epístola do bem-aventurado apóstolo Paulo.
2 - O que vos escreveu primeiro, no início do evangelho?
3 - Na verdade, estava ele inspirado pelo Espírito quando vos
comunicou normas sobre si próprio, sobre Cefas e Apolo,
pois já então formáveis partidos.
4 - Mas o partidarismo daquele tempo importou num pecado
muito menor para vós já que vos agrupáveis em torno dos
apóstolos e de um homem aprovado por eles.

5 - Refleti, porém: quem são os que vos pervertem neste
momento e como enfraqueceram o renome da vossa
caridade tão celebrada por todos.
6 - Uma vergonha, meus caros, uma vergonha muito grande
e indigna de uma conduta em Cristo ouvir-se que a Igreja dos
coríntios, tão inabalável e antiga, se rebele contra os
presbíteros por causa de uma ou duas pessoas.
7 - E tal rumor não chegou apenas até nós, mas atingiu
também a outros que possuem as mesmas convicções que
nós, a ponto de se proferirem blasfêmias ao nome do Senhor
por causa da vossa insensatez, por armar perigo para vós
próprios.
CAPÍTULO XLVIII

1 - Arranquemos esse mal o mais rápido possível. Lancemo-
nos aos pés do Senhor e peçamos-lhe, entre lágrimas, que se

compadeça de nós, reconciliando-se conosco, trazendo-nos
de volta a uma prática santa e pura de nossa fraternidade.
2 - Porque é esta a porta da justiça aberta para a vida,
conforme está escrito: "Abri-me as portas da justiça: por elas
quero entrar e louvar o Senhor.
3 - É esta a porta do Senhor: por ela entrarão os justos".
4 - Entre as muitas portas abertas, a porta da justiça é a porta
de Cristo. Bem-aventurados todos aqueles que entram por
ela e guiam seus passos na santidade e justiça, cumprindo
todas as coisas impertubavelmente.
5 - Que alguém tenha fé, que seja capaz de expor o
conhecimento, que seja sábio em discernir os discursos, que
seja santo em suas ações.
6 - Quanto maior parecer, mais se deve ser humilde,
procurando o proveito de todos e não o próprio.
CAPÍTULO XLIX

1 - Quem possui a caridade em Cristo, cumpra os
mandamentos de Cristo.
2 - Quem poderia descrever o vínculo da caridade de Deus?
3 - Quem seria capaz de exprimir a magnificência de sua
beleza?
4 - É indescritível a altura a que nos leva o amor.
5 - O amor nos une a Deus, o amor cobre os pecados, o amor
suporta tudo, o amor é grandioso em tudo. Nada há de
mesquinho e soberbo na caridade. A caridade não conhece
cisma, a caridade não se revolta, a caridade realiza tudo com
harmonia, na caridade todos os eleitos de Deus atingiram a
perfeição. Sem caridade, não há nada que agrade a Deus.
6 - Na caridade o Senhor nos acolheu. Pela caridade que
teve conosco, Nosso Senhor Jesus Cristo deu Seu sangue
por nós, segundo a vontade de Deus; sua carne por nossa
carne, sua alma por nossas almas.
CAPÍTULO L
1 - Amigos, vede como a caridade é grande e admirável e
como não há como descrevê-la de forma perfeita.
2 - Quem seria capaz de chegar até ela a não ser aqueles a
quem Deus os torna dignos. Peçamos e supliquemos por Sua
misericórdia, para vivermos irrepreensíveis na caridade sem a
parcialidade humana.
3Desde Adão, passaram todas as gerações até o dia de hoje.
Mas os que foram perfeitos no amor segundo a graça de
Deus tomaram posse da terra dos santos e hão de
manifestar-se quando o Reino de Cristo estiver à vista.
4 - Pois está escrito: "Entrai nos aposentos por um instante,
até que passe minha ira e meu furor. Então me lembrarei do
dia favorável e hei de ressuscitar-vos de vossos túmulos".
5 - Amigos, somos felizes quando cumprimos os
mandamentos de Deus na harmonia da caridade, para que

nossos pecados sejam perdoados pela caridade.
6 - Porque a Escritura diz: "Bem-aventurados aqueles que
tiveram perdoadas suas iniqüidades e encobertos seus
pecados. Bem-aventurado o homem a quem Deus não
imputa pecado e em cuja boca não se encontra a fraude".
7 - Estas bem-aventuranças dizem respeito aos que foram
escolhidos por Deus, através de Nosso Senhor Jesus Cristo,
a quem se dê a glória pelos séculos dos séculos. Amém
CAPÍTULO LI
1 - Peçamos perdão de nossas quedas e faltas ocorridas pela
sugestão do inimigo. Mas também devem considerar nossa
comum esperança aqueles que se tornaram os líderes dessa
revolta e cisão.
2 - Pois os que vivem no temor e na caridade preferem ver-se
a si mesmos atormentados do que os seus irmãos. Preferem
ser censurados a ver censurada a concórdia que nos foi
transmitida por tão bela e santa tradição.
3 - Mais vale ao homem confessar publicamente suas faltas
do que endurecer o coração, da mesma forma como
endureceu o coração daqueles que se revoltaram contra
Moisés, servo de Deus, e que foram castigados mais tarde,
4 - pois desceram vivos para o inferno, onde a morte os
apascentará.
5 - O faraó, seu exército, todos os chefes do Egito, os carros
e os que neles estavam não foram lançados ao Mar Vermelho
por outro motivo. Aí pereceram porque endureceram seus
corações insensatos, após os sinais e milagres realizados por
Moisés, servo de Deus, no Egito.
CAPÍTULO LII
1 - Irmãos, o Senhor não necessita de absolutamente nada.
Não precisa de nada de ninguém, exceto que o confessem.

2 - Pois assim diz Davi, Seu eleito: "Hei de exaltar o Senhor e
isso Lhe agradará mais do que um novilho que possua chifres
e patas. Que O vejam os pobres e se rejubilem".
3 - E novamente: "Oferece a Deus um sacrifício de louvor.
Cumpre teus votos ao Altíssimo. 'Invoca-Me no dia da tua
tribulação: Eu te livrarei e me renderás glórias'.
4 - Porque, para Deus, sacrifício é o espírito humilhado."
CAPÍTULO LIII
1 - Caríssimos, conheceis - e como conheceis bem - as
Sagradas Escrituras: vos aprofundastes nos oráculos de
Deus. Escrevemos isto para simplesmente vos recordar das
coisas.
2 - Quando Moisés subiu a montanha e aí passou,
humildemente, quarenta dias e quarenta noites fazendo
jejum, Deus lhe falou: "Desce depressa porque teu povo
pecou. Aqueles que conduziste para fora da terra do Egito
pecaram e afastaram-se do caminho que prescreveste pois
fizeram para si ídolos de metal".
3 - E o Senhor ainda acrescentou: "'Eu já te disse e volto a
repetir: vi este povo e quão dura é sua cabeça. Deixa-me
exterminá-lo, apagarei seu nome sob os céus e farei de ti
uma nação grandiosa e admirável, muito mais numerosa do
que esta'.
4 - Mas Moisés respondeu-lhe: 'Senhor, não faças isso!
Perdoa o pecado deste povo ou tira de mim o livro dos vivos'".
5 - Ó grande caridade! Ó perfeição insuperável! O servo fala
com liberdade com o seu Senhor: exige perdão para o povo
ou implora que seja destruído junto com ele.
CAPÍTULO LIV
1 - Quem, dentre vós, for nobre, compassivo e cheio de
caridade,

2 - diga: "se é por minha causa que há revolta, discórdia e
cisma, eu me retiro, parto para onde quiserdes e faço o que
for pedido pela comunidade, desde que apenas o rebanho de
Cristo viva em paz com os presbíteros constituídos".
3 - Quem agir dessa maneira obterá grande glória em Cristo e
será recebido em toda a parte, "pois do Senhor é a terra e
sua plenitude".
4 - É isso o que fizeram e ainda fazem os que trilham, sem
remorsos, o caminho de Deus.
CAPÍTULO LV
1 - Porém, tomemos também exemplos dentre os gentios:
quando surge uma peste, muitos reis e príncipes se entregam
à morte por inspiração de algum oráculo, para salvar o
sangue de seus cidadãos. Muitos outros se retiram de suas
cidades, para que a revolta não se estenda.
2 - Conhecemos muitos dentre os nossos que se entregaram
à prisão para resgatarem outros. Muitos se entregaram à
escravidão para sustentar os demais com o dinheiro pago.
3 - Muitas mulheres, fortalecidas pela graça de Deus,
realizaram difíceis tarefas.
4 - A bem-aventurada Judite, durante o cerco da cidade,
pediu aos presbíteros a permissão para se ausentar do
acampamento dos estrangeiros.
5 - Expondo-se ao perigo, saiu por amor à pátria e ao povo
em cerco. E o Senhor entregou Holofernes na mão de uma
mulher.
6 - Perfeita na fé, Ester expôs a si mesma num perigo não
menor, para salvar da proximidade da morte as doze tribos de
Israel. Pelo jejum e humilhação, suplicou ao Senhor que tudo
vê, o Deus dos séculos. E este, vendo a humildade de sua
alma, salvou o povo em favor daquela que se expusera ao
perigo.

CAPÍTULO LVI
1 - Supliquemos também nós pelos que vivem no pecado,
para que recebam doçura e humildade, para não cederem a
nós, mas à vontade de Deus. Assim se tornará frutífera e
perfeita a lembrança misericordiosa que deles tivemos diante
de Deus e dos santos.
2 - Aceitemos a correção fraterna, a qual, amados, ninguém
deve julgar mal. A exortação que damos uns aos outros é boa
e muito útil, pois nos une à vontade de Deus.
3 - É isso que testemunha a santa Escritura: "Castigou e
tornou a me castigar o Senhor, mas não me entregou à
morte.
4 - A quem o Senhor ama, castiga e açoita como a seu filho."
5 - O texto continua: "Há de me castigar, como justo em
misericórdia, e há de me corrigir. E enquanto isso, que
nenhum óleo dos pecadores ungia a minha cabeça."
6 - E novamente diz: "Bem-aventurado o homem que o
Senhor corrigiu. Não recuses a repreensão do todo-poderoso,
pois Ele faz sofrer e novamente restabelece.
7 - Bateu e suas mãos curaram.
8 - Seis vezes arrancar-te-á as dificuldades; na sétima, o mal
não te atingirá.

9 - Na fome, preservar-te-á da morte. Na guerra, [preservar-
te-á] do fio da espada.

10 - Proteger-te-á do açoite da língua, não temerás males
vindouros.
11 - Rirás dos injustos e maus, e não temerás os animais
selvagens.
12 - Até os animais selvagens viverão em paz contigo.
13 - Verás que tua casa gozará de paz e não faltará comida
na tua tenda.
14 - Verás que tua descendência será grande e os teus filhos
como a erva miúda do campo.

15 - Descerás ao túmulo como o trigo amadurecido, colhido
no tempo certo, ou como feixe da eira, recolhido na hora
exata"
16 - Caríssimos, vede quão grande é a proteção para aqueles
que aceitam a correção do Senhor, pois Ele nos corrige como
bom Pai, para encontrarmos misericórdia por sua santa
correção.
CAPÍTULO LVII
1 - Portanto, vós que originastes a revolta, submetei-vos aos
presbíteros e deixai-vos corrigir até vos converterdes,
dobrando os joelhos de vossos corações.
2 - Aprendei a submeter-vos, depondo a arrogante e
orgulhosa jactância da vossa língua, pois é muito melhor para
vós encontrar-vos no rebanho de Cristo, como pequenos e
escolhidos, do que serdes superestimados, mas excluídos da
Sua esperança,
3 - pois é assim que se exprime a santíssima sabedoria: "Eis
que anunciar-vos-ei a palavra do meu Espírito. Dar-vos-ei a
conhecer o meu discurso.
4 - Já que chamei e não escutastes, me estendi e não destes
atenção, ao contrário, negligenciastes os meus conselhos e
fizestes pouco caso das minhas advertências, por isso
também rirei da vossa perda, zombarei na hora em que
chegar a tua ruína e quando o tumulto se abater sobre vós,
catástrofe repentina como uma tempestade, ou quando vos
visitar a tribulação e a angústia.
5 - Então me invocarás, porém, não vos escutarei. Pecadores
me procurarão, mas não me encontrarão, pois detestaram a
sabedoria e não estimaram, acima de tudo, o temor do
Senhor, não deram atenção aos meus conselhos, zombaram
das minhas advertências.
6 - Por isso, comerão os frutos dos seus erros e saciar-se-ão
da sua própria impiedade.

7 - Serão mortos em troca do mal que provocaram aos
humildes e o julgamento aniquilará os ímpios. Porém, aquele
que Me escuta, habitará sua tenda e, confiando na
esperança, viverá em paz sem temer qualquer mal."
CAPÍTULO LVIII
1 - Assim, obedeçamos a seu Nome, todo santo e glorioso.
Fujamos das ameaças que a sabedoria incute contra os
insubmissos, para que possamos fixar nossa tenda confiantes
no Nome santíssimo de Sua Majestade.
2 - Acatai ao nosso conselho e não vos arrependereis, pois
Deus é vivo, assim como vivo também são Jesus Cristo e o
Espírito Santo, e vivas também são a fé e a esperança dos
eleitos no sentido daqueles que praticam os mandamentos e
preceitos de Deus com humildade, mansidão perseverante e
sem hesitação, para serem relacionados e se enfileirarem no
número dos que serão salvos por Jesus Cristo, pelo qual
rendemos glória pelos séculos dos séculos. Amém.
CAPÍTULO LIX
1 - Se, porém, alguns não obedecerem ao que foi dito por
nós, saibam que se envolverão em pecado e perigo não
pequeno.
2 - Contudo, nós seremos inocentes deste pecado e
pediremos em súplica e oração constante para que o Criador
de tudo conserve intacto o número dos que foram contados
entre Seus escolhidos em todo o mundo, por seu Filho mui
amado, Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual nos chamou
das trevas para a luz, da ignorância para o conhecimento da
glória de seu nome.
3 - Ele nos ensinou a esperar em Teu Nome, princípio de
toda criatura. Tu que nos abriste os olhos do coração para Te
conhecermos, ao único Altíssimo nas alturas, Santo que
repousa entre os santos:

Tu que rebaixas o orgulho dos soberbos, que desfazes as
estratégias das nações, que exaltas os humildes e humilhas
os que se exaltam, que distribuis a riqueza e a pobreza, que
fazes morrer e levas à vida, que és o único benfeitor dos
espíritos e Deus de toda carne, que vigias os abismos e
controlas as obras dos homens, que és socorro nos perigos e
Salvador no desespero, Criador e Bispo de todo espírito, tu
que multiplicas as raças sobre a terra e, dentre todas,
escolhes os que te amam, por Jesus Cristo, teu Filho amado,
pelo qual nos ensinaste, santificaste e glorificaste.
4 - Mestre, nós te pedimos: torna-te nosso socorro e nosso
protetor; salva os oprimidos entre nós; levanta os caídos;
mostra-te aos que oram; cura os fracos; leva ao bom caminho
aqueles do teu povo que erram; sacia os que têm fome;
liberta nossos presos; consola os fracos; conheçam-Te todos
os povos, porque Tu és o Deus único, e Jesus Cristo é Teu
Filho, e nós o Teu povo e ovelhas do Teu rebanho.
CAPÍTULO LX
1 - Pois Tu fizeste aparecer a harmonia eterna do universo
através das forças que nele operam. Tu, Senhor, criaste a
terra habitada. Tu te manténs fiel por todas as gerações, justo
nos julgamentos, admirável no poder e na majestade, sábio
ao criar e providente ao sustentar a criação, bom nos dons
visíveis, benigno para com os que em Ti confiam.
Misericordioso e compassivo, perdoas nossas iniqüidades,
pecados, faltas e negligências.
2 - Não leves em conta todo pecado de teus servos e servas,
purifica-nos, ao invés, com a purificação da tua verdade.
Dirige nossos passos para andarmos na santidade do
coração e para realizarmos o que é bom e agradável aos
Teus olhos e aos olhos dos que nos governam.
3 - Sim, Mestre, mostra-nos a tua face para o bem na paz,
para nos protegeres com Tua mão forte e nos preservares de

todo pecado por teu braço excelso e nos livrares de todos
quanto nos odeiam sem motivo
4 - Concede-nos harmonia e paz, a nós e a todos os
habitantes da terra, assim como as concedestes a nossos
pais quando Te invocaram santamente na fé e na verdade.
Torna-nos submissos a Teu Nome todo-poderoso e todo
santo, e aos que nos governam e dirigem sobre a terra.
CAPÍTULO LXI
1 - Tu, Senhor, lhes deste o poder da autoridade por tua força
magnífica e inefável, para que soubéssemos que por Ti lhes
foi dada a glória e a honra, e a ele nos submetêssemos em
nada contrariando a Tua vontade. Dai-lhes, portanto, Senhor,
saúde, paz, concórdia e estabilidade a fim de que possam
exercer sem obstáculos a soberania que lhes confiaste.
2 - Pois Tu, Senhor dos céus, Rei dos séculos, dás aos filhos
do homem honra, glória e poder sobre o que existe na terra.
Tu, Senhor, dirige sua vontade no sentido do que é bom e
agradável a Teus olhos, em Tua presença, a fim de que
exerçam a autoridade que lhes deste na paz e mansidão, e
obtenham Tua graça!
3 - Só Tu podes realizar esses bens e outros maiores ainda
entre nós. A Ti exaltamos pelo Sumo-Sacerdote e protetor de
nossas almas, Jesus Cristo. Por Ele Te seja dada glória e
magnificência, agora e de geração em geração, pelos séculos
dos séculos. Amém.
CAPÍTULO LXII
1 - Amados irmãos, escrevemo-vos o suficiente a respeito
das decisões mais acertadas para nossa religião, como
também a respeito da atitude mais favorável para as pessoas
que querem levar uma vida santa na piedade e justiça.
2 - Citamos todos os aspectos que dizem respeito à fé,
penitência, verdadeira caridade, continência, prudência e
paciência, recordando que vos é necessário agradar

santamente ao Deus poderoso em justiça, verdade e
generosidade, mantendo a concórdia pelo esquecimento da
injúria, no amor e na paz, com constante modéstia, como
também nossos pais que, como mencionamos, Lhe
agradaram, mantendo-se humildes na conduta para com o
Pai, Deus e Criador, e para com todos os homens.
3 - Tivemos tanto mais gosto em recordá-lo quanto mais
sabíamos estar escrevendo a homens de fé e consideração,
que se aprofundaram nas máximas do ensinamento de Deus.
CAPÍTULO LXIII
1 - É certo, assim, nos orientarmos por tais e tão grandes
exemplos. Curvemos nossa cabeça e ocupemos o lugar da
obediência, para acalmarmos a vã revolta e atingirmos com
lisura a meta proposta dentro da verdade.
2 - Haveis de nos proporcionar alegria e prazer se vos
submeterdes ao que escrevemos pelo Espírito Santo,
cortando pela raiz a ira nascida do ciúme, conforme o pedido
de paz e concórdia que vos fazemos por esta carta.
3 - Enviamo-vos homens de confiança e prudentes que,
desde a juventude até a idade mais avançada, tiveram uma
conduta irrepreensível entre nós, e que servirão de
testemunhas entre vós e nós.
4 - Assim fizemos para que saibais que toda a nossa
preocupação ia e continua indo ao sentido de que se
restabeleça imediatamente a paz entre vós.
CAPÍTULO LXIV
1 - No restante, que Deus, que tudo enxerga, Senhor dos
espíritos, Dono de toda carne e que escolheu o Senhor Jesus
Cristo e a nós por Ele, conceda a toda alma que tiver
invocado o Seu Nome magnífico e santo, fé, temor, paz,
paciência, generosidade, continência, pureza e prudência
para agradar ao Seu Nome pelo Sumo-Sacerdote e nosso

chefe, Jesus Cristo, pelo qual Lhe seja rendida glória,
majestade, poder e honra, agora e por todos os séculos dos
séculos. Amém.

CAPÍTULO LXV
1 - Aos nossos enviados, Cláudio Efebo e Valério Bito, junto
com Fortunato, enviai-os rapidamente de volta na paz e com
alegria, para que logo nos tragam notícias sobre a harmonia e
paz, pela qual tanto rezamos e suplicamos e assim, mais
depressa, nos alegremos da boa ordem entre vós.
2 - A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco e
com todos os eleitos de Deus, através Dele por toda a parte.
Por Jesus, seja dada a Deus glória, honra, poder e
majestade, o trono eterno, desde todos os séculos e para
todos os séculos dos séculos. Amém.

Fim

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